A cidade da Guarda celebra hoje, 27 de novembro, o 826.º aniversário da atribuição do foral por D. Sancho I, momento que marca oficialmente a elevação da cidade. As comemorações deste ano decorrem de 20 a 29 de novembro, com um vasto conjunto de iniciativas promovidas pelo Município, numa “celebração coletiva da identidade, essência e história da Guarda”.
O programa festivo de 2025 fica também assinalado pelo 25.º aniversário do Centro de Estudos Ibéricos (CEI), instituição de referência no diálogo cultural entre Portugal e Espanha e responsável pela criação, em 2004, do Prémio Eduardo Lourenço.
Cardeal José Tolentino de Mendonça recebe o Prémio Eduardo Lourenço 2025
O momento alto das celebrações decorreu esta manhã, com a entrega do Prémio Eduardo Lourenço 2025 ao cardeal, poeta e teólogo José Tolentino de Mendonça.
Na evocação da figura de Eduardo Lourenço, foi recordada uma das expressões mais emblemáticas do pensador serrano — “Deus madruga sempre mais que nós” — e sublinhou-se a força criadora do autor que “viveu muitas vidas na sua: filósofo, ensaísta, escritor, psicanalista, irónico, gigante da cultura e da língua portuguesa”.
O Cardeal Tolentino destacou no seu discurso que, para Eduardo Lourenço, as raízes biográficas nunca foram determinismo:
“Eu pertenço àquela raça de pessoas que queria estar entre, e não em.”
Essa postura de abertura, disse, moldou toda a obra do ensaísta, que fez da relação humana o centro do seu pensamento e ação.
A importância da relação e do diálogo ibérico
O cardeal sublinhou que Eduardo Lourenço foi alguém que acreditou “no potencial humano da relação”, fazendo dela “espaço de aprofundamento do ser e da esperança”. Enfatizou o contributo determinante do intelectual para o fortalecimento da relação entre Portugal e Espanha, no quadro mais amplo da Europa:
“O ‘entre’ é um lugar generativo. Nunca um espaço de isolamento.”
A sua obra, afirmou, “não se debruçou sobre um único objeto”, porque Lourenço escolheu como modo de existência o ‘viver entre’, o ‘viver com’ e o ‘viver para’.
Homenagem aos professores: ‘A qualificação da cidadania está em causa’
Numa intervenção de forte alcance social, o cardeal dedicou parte do seu discurso a enaltecer o papel dos professores, deixando um alerta para o desgaste, o burnout e as crescentes exigências burocráticas que afetam a profissão.
“Os professores não podem ser irrelevantes. A qualificação da cidadania está em causa”, afirmou, defendendo que o contributo dos educadores precisa de ser reconhecido e protegido. Recordou que já o Papa Leão XIII sublinhava a dignidade desta missão.
Para Tolentino de Mendonça, uma crise na transmissão do saber é sempre uma crise de esperança, e é por isso que os tempos de incerteza exigem “mediadores culturais e humanos”:
“Ensinar é marcar com um sinal. É abrir caminho. É dar ao outro ferramentas para que se torne protagonista da sua própria vida.”
Enfatizou ainda a necessidade de mestres “não apenas para encontrar respostas, mas para formular as grandes perguntas”, defendendo que a memória de Eduardo Lourenço “nos chama a revalorizar o papel da educação e a figura do professor”.
Prémio revertido para a Casa da Juventude Franciscus
Num gesto de generosidade, o cardeal anunciou que a totalidade do valor monetário do prémio será doada ao novo Centro de Pastoral Juvenil e Universitário da Diocese da Guarda, que está a nascer na futura Casa da Juventude “Franciscus”, junto da Sé Catedral.

Reconhecimento da cidade
No encerramento da sessão solene, o presidente da Câmara Municipal da Guarda dirigiu palavras de profunda estima ao homenageado:
“Este prémio reconhece quem nos inspira. A cidade da Guarda recebe-o como um dos seus, com respeito, estima e admiração. A Guarda agradece-lhe o seu testemunho. O nosso bem-haja, beirão.”
Foto: Transmissão YouTube do Municipio da Guarda e Pedro Pinto


