Cerca de uma dezena de sacerdotes da Diocese da Guarda iniciaram hoje, 24 de novembro, o seu retiro anual, na Casa Rainha do Mundo, em Gouveia.
Os exercícios espirituais decorrem até à próxima sexta-feira e são orientados pelo Bispo Diocesano, D. José Pereira.
Na primeira reflexão, o Prelado convidou os participantes a entrar verdadeiramente em oração, tomando como referência o texto de Lc 18, 1-8, onde Jesus insiste na necessidade de rezar sempre, sem desanimar. Os exercícios espirituais – recordou – inserem-se justamente neste apelo de Cristo.
D. José Pereira sublinhou que a oração não é apenas um conjunto de práticas ou de gestos agradáveis a Jesus, mas uma relação de íntima proximidade. “A oração é alimento, necessidade vital e permanente do discípulo”, afirmou. Apesar de os sacerdotes não serem monges, o Bispo destacou que a intimidade constante com o Senhor é essencial para quem assume uma vida ministerial.
O cuidado da vida espiritual, necessário a todos os cristãos, torna-se ainda mais urgente em quem serve a Igreja de forma sacramental. Sem essa raiz viva – insistiu – corre-se o risco de viver apenas em defesa, colocando limites, vivendo dentro de “linhas vermelhas”. Pelo contrário, quando a vida de Cristo passa pelo sacerdote, não se trata apenas de imitar Jesus, mas de deixar que seja a própria vida de Cristo a agir nele. Assim, não há medo: morrer e ressuscitar com Cristo torna possível avançar sem restrições humanas.
A vida espiritual, lembrou, é a raiz de tudo: vida teologal, vida de Deus em nós. “Não somos simples funcionários ou tarefeiros. A vida de Cristo em nós anima a iniciativa, renova a esperança e impede que cristalizemos”, afirmou. O interesse pessoal nunca pode estar acima da justiça do Reino; cumprir a lei sem procurar o bem pleno do outro é insuficiente.
Neste sentido, a oração apresenta-se como remédio e antídoto. As dificuldades na oração permanente são sinais de alerta para não criar raízes erradas. Os exercícios espirituais são, por isso, uma oportunidade privilegiada de revisão interior.
A oração – continuou o Bispo – aguça a sensibilidade espiritual, tornando-nos mais próximos daquilo que move o coração de Deus e do seu ritmo. É “ter por amores o amor do meu Amor”. É também convocação para um cuidado constante, para uma fidelidade renovada e criativa, capaz de olhar pelo olhar de Deus, sobretudo nas situações mais difíceis.
Esta intimidade com o Senhor desperta também a urgência de responder prontamente às necessidades dos irmãos, especialmente daqueles que, cruzando-se com o ministério dos sacerdotes, mais necessitam de uma palavra ou gesto rápido de atenção.
O silêncio, longe de ser fuga ou parêntesis da ação pastoral, é um mergulho no repouso do Coração de Jesus, onde tudo ganha luz, sentido e saída. Nele se renova a paz de trazer a Deus tudo aquilo que o sacerdote é chamado a viver, permitindo um reordenamento interior.
Para a oração pessoal, o Bispo propôs como meditação o Salmo 138/139, convidando cada sacerdote a rever diante de Deus aquilo que é e aquilo que traz no coração.
O retiro prossegue ao longo da semana, num ambiente de recolhimento, partilha e busca renovada da fidelidade ao chamamento recebido.
