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Opinião: Cisma e Excomunhão

Estamos a poucos meses de se celebrarem os 1700 anos do Concílio de Niceia, ano que o Santo Padre Francisco pretende que fique marcado pela união entre as várias Igrejas cristãs, ao ponto de se definirem posições de convergência como a pretendida determinação de uma data única para celebrar a Páscoa. Porém, assistimos com alguma passividade a situações que colocam em causa a união da nossa própria Igreja católica e que de certa forma poderão colocar em causa a continuidade do catolicismo como o conhecemos. Tendo uma intenção de unidade ecuménica, também fundamento do Concílio de Niceia, hoje, mais do que uma preocupação com as outras confissões, ficamos a preocupação da nossa própria unidade enquanto Igreja católica.

Há não muitos dias, numa decisão contraditória, um tribunal civil belga condenou dois clérigos que impediram uma mulher de frequentar a formação de diaconado, uma vez que a ordenação feminina, apesar de reivindicada por várias pessoas, algumas delas influentes dentro da hierarquia da Igreja, ainda é proibida. Quanto à contradição, reside no facto do próprio tribunal ter declarado que não tem competência para anular a recusa, por se tratar de uma questão de direito canónico, apesar de não se abster de aplicar a condenação por discriminação.

Quem também tem querido quebrar as orientações do direito canónico, têm sido os Bispos alemães, arrastando consigo bastantes fiéis que aos poucos se vão declarando apóstatas. Na Alemanha paga-se o chamado imposto religioso, sem o qual, os cidadãos que se declarem não católicos, não podem beneficiar dos sacramentos, sendo isso que caracteriza a apostasia. A Alemanha tem tido um caminho sinodal próprio, desafiando as orientações papais, ao ponto de se falar de um novo cisma na Igreja católica, já que defendem e aprovam decisões estruturantes contra orientações expressas da Santa Sé.

Cisma também é algo de que os nossos vizinhos espanhóis têm ouvido falar, pelo mediático caso das ex-freiras de Belorado, caso que envolve algumas ex-clarissas que recentemente foram excomungadas, por terem declarado que rompiam com o que denominam Igreja conciliar. Colocadas inicialmente e de forma voluntária sob a jurisdição de um Bispo excomungado, rompendo com a ligação a Roma e ao Santo Padre, defendem que existe o sedevacantismo, ou seja, que a Cátedra de S. Pedro está vacante, pois não reconhecem nenhum Papa após Pio XII, tendo retrocedido até essa data quanto ao que defendem e aceitam.

Algo que Carlo Viganó, ex-diplomata da Santa Sé e considerado um dos conservadores da Igreja católica, excomungado há umas semanas, também defende. Segundo esta corrente, denominada por alguns como extrema-direita eclesiástica, o Concílio Vaticano II, no qual se definiram grandes linhas orientadoras da Igreja católica, não passou de uma mera reunião, sem qualquer valor, pelo que, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo não é a Igreja conciliar e tudo o que segue estas orientações deve ser abandonado.

Até há uns meses atrás, ouvir falar de cisma na Igreja católica, remetia-nos apenas para o passado longínquo. No entanto, todos estes casos, que embora à simples vista não pareça, envolvem um grande número de fiéis, seja de forma direta, seja por influência, deve fazer-nos refletir. Porém, a aproximação do Jubileu 2025, que ocorre a cada 25 anos e cuja celebração se inicia a 24 de dezembro, traz-nos alguma esperança, pois como Ano Santo que é, deverá ficar marcado pela reconciliação e conversão.

Contudo, não podemos assistir impávidos e serenos a todas estas alterações que se sucedem na Igreja católica e que podem afetar de forma irremediável tudo o que se construiu durante tantos e tantos anos. Não é algo que seja alheio ao nosso pais, à nossa Diocese ou até mesmo à nossa Paróquia. Não se trata apenas de Espanha, Estados Unidos ou Alemanha. Trata-se da Igreja Universal à qual cada um de nós pertence e na qual Jesus Cristo espera de nós uma atitude de firmeza na fé e espírito evangelizador. Para que a Igreja de Jesus, com todos os Concílios a que assistiu e todos os Papas que viu serem eleitos, seja cada vez mais forte na unidade.    

 

Opinião: Ilda Manso, Advogada