Cidade do Vaticano, 09 de outubro de 2025 — O Papa Leão XIV publicou hoje a sua primeira Exortação Apostólica, intitulada Dilexi Te (“Amei-te”), dedicada ao tema do amor pelos pobres.
O documento, profundamente enraizado no Evangelho e na tradição viva da Igreja, constitui um forte apelo à conversão pessoal e comunitária diante das desigualdades e da indiferença social do nosso tempo.
“Jesus diz ‘Eu te amo’, apesar da tua fraqueza”, escreve o Santo Padre logo no início do texto, convidando cada cristão a reconhecer nos pobres o rosto do próprio Cristo.
Um apelo ao amor que transforma
Na introdução e no primeiro capítulo, o Papa recorda que Cristo identifica-se com os últimos e convida todos os crentes a “fazer-se próximos” dos pobres. Sublinha que o empenho da sociedade — e até da própria Igreja — ainda é insuficiente para combater as causas estruturais da pobreza, pedindo uma verdadeira mudança de mentalidade.
Leão XIV descreve um “ciclo da pobreza” que se alimenta da cultura da acumulação, de sistemas injustos e da indiferença social, tornando invisível o sofrimento dos mais frágeis.
“A situação dos pobres é um grito constante que interpela a nossa vida”, afirma o Papa, lembrando que o Reino de Deus exige “justiça, fraternidade e solidariedade”.
À luz das Escrituras e da Tradição
Nos capítulos seguintes, Dilexi Te percorre a Sagrada Escritura e a história da Igreja para mostrar que Deus é amigo e libertador dos pobres, desde o Antigo Testamento até à Encarnação de Cristo. Jesus, pobre entre os pobres, revela o amor que se faz próximo e solidário.
A Exortação destaca ainda o testemunho de inúmeros santos e santas que, ao longo dos séculos, serviram os mais necessitados — desde São Vicente de Paulo a Santa Teresa de Calcutá — mostrando que “servir os pobres é encontrar Cristo”.
“Os pobres são o rosto vivo e o tesouro da Igreja”, recorda o Papa, citando Santo Ambrósio: “Que tesouros mais preciosos tem Jesus do que aqueles em quem ama mostrar-se?”
Um desafio permanente para a Igreja
O Papa Leão XIV retoma o ensinamento da Doutrina Social da Igreja, desde a Rerum Novarum até aos dias de hoje, reafirmando três princípios fundamentais:
- A Igreja é, por vocação, Igreja dos pobres.
- O pobre representa Cristo no meio do mundo.
- Os bens têm uma função social e um destino universal.
Na linha dos seus predecessores, o Papa cita São João Paulo II, Bento XVI e Francisco, sublinhando que a caridade autêntica exige ação social, justiça e transformação das estruturas que geram exclusão.
“Vai e faz tu também o mesmo”
Inspirando-se na parábola do Bom Samaritano, o Papa interpela diretamente cada cristão: “Com qual deles te pareces?”. A indiferença, o descarte e o abandono são sinais de uma sociedade doente — e a resposta deve ser o amor concreto que se faz próximo, solidário e misericordioso.
Um caminho de misericórdia e esperança
Na parte final, Dilexi Te convida a Igreja inteira a tocar a carne sofredora dos pobres, a promover políticas que dignifiquem o trabalho e a dar voz a quem não tem voz.
“Uma Igreja que não põe limites ao amor, que não tem inimigos, mas apenas homens e mulheres para amar, é a Igreja de que o mundo necessita”, escreve o Papa Leão XIV.
A Exortação termina com um forte apelo à esperança e à fidelidade ao Evangelho dos pobres:
“A Igreja é chamada a ser misericordiosa, próxima e profética, escolhendo sempre os pobres, denunciando as injustiças e construindo um mundo de fraternidade, justiça e solidariedade.”
📄 O texto integral da Exortação Dilexi Te pode ser consultado no site do Vaticano
Imagens: Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral