Celebramos a memória litúrgica do martírio de S. João Batista, no ano em que, pela oração mais intensa, somos convidados a preparar da melhor maneira o Jubileu ordinário da Redenção, convocado para o ano de 2025.
Também, não o esquecemos, faz neste mês de agosto um ano que vivemos em Portugal, com a sua conclusão em Lisboa, a Jornada Mundial da Juventude 2023. A presença do Papa Francisco durante 5 dias entre nós, presidindo a este evento, que trouxe até nós de todas as partes do mundo, 1 milhão e meio de jovens, não pode deixar de continuar na nossa oração de ação de graças, mas também de súplica para que o entusiasmo e as razões de esperança desta JMJ se cumpram na nossa pastoral dos jovens, como também na ação evangelizadora voltada para todas as idades.
Temos presente nesta nossa peregrinação também o facto de estarmos a iniciar um novo ano pastoral que queremos confiar à proteção maternal de Nossa Senhora de Fátima.
Diante de nós temos agora particularmente presente a figura de S. João Batista e tudo o que o seu martírio representa para a missão profética que o Senhor confia à sua Igreja.
De facto a missão do profeta é sempre muito exigente. Aconteceu com João Batista, o precursor do Messias Jesus Cristo. Neste caso, ele teve que denunciar o erro do próprio rei Herodes.
Este tinha consciência do seu erro, mas não tinha coragem para o corrigir. E por isso, se por um lado apreciava a justeza da voz denunciadora do profeta, por outro sentia-se incomodado. E no caso, João Batista incomodava Sobretudo a mulher que Herodes tinha tomado indevidamente como esposa – Herodíades.
Ora, a tentação de quem tem poder e se sente incomodado é calar a voz de quem incomoda, abafar a voz do profeta.
E foi essa também a tentação de Herodíades, a qual, sem escrúpulos, aproveitou a oportunidade para pedir, num prato, a cabeça de João Baptista e assim se desfazer desse incómodo.
Esta é mesmo a missão e o risco de todo o profeta, que escutámos também referida ao profeta Jeremias, na I leitura.
Este recebe do próprio Deus mandato para ir comunicar ao Povo a Sua mensagem, a qual era exigente, porque obrigava a muitas mudanças, obrigava-a à conversão.
O profeta sente a dificuldade, e o primeiro sentimento é de medo; mas logo vem a garantia do próprio Deus que envia, dizendo: não temas diante deles, porque eu estou contigo para te salvar.
Essa é também a garantia que Jesus dá à Sua Igreja e a todos os que O seguem, na condição de discípulos.
Ele está sempre connosco e, através do Seu Espírito, inspira-nos as opções que temos de fazer em cada momento e dá-nos a força necessária para as levarmos à prática
Na sua missão de profeta, o Papa Francisco insiste diariamente na urgente necessidade de se encontrarem caminhos de paz, num mundo em que, como ele diz, temos, de facto, uma terceira guerra mundial aos pedaços.
Chama também, uma e outra vez, a atenção do mundo para a realidade da população migrante. Ainda ontem, na habitual audiência das quartas-feiras, denunciou a indiferença das governações perante o que se passa com migrantes que continuam a morrer no deserto ou no mar, quando à procura de condições de vida digna.
E o facto é que, no que a este assunto diz respeito, nós portugueses também precisamos de acolher bem os imigrantes que nos procuram; de outra maneira, não temos pessoal para o cumprimento de serviços básicos. Porém, urge montarmos sistemas operativos de acolhimento que permitam a sua inserção na nossa língua e na nossa cultura, na saúde, nos programas de segurança social para que os migrantes entre nós deixem de ser um peso e passam a ser um ativo no desenvolvimento do nosso país.
Nesta matéria temos de facto que pedir mais eficácia ao nosso AIMA. Felizmente que vamos tendo bons exemplos de pessoas e instituições que dedicadamente se empunham na ação meritória da integração de imigrantes.
E a nossa pastoral de Igreja precisa também de dar a devida atenção a este fenómeno da mobilidade entre países e culturas. A este propósito, na recente visita “ad limina”, foi-nos expressamente dito, no Dicastério da Evangelização “ad gentes” que de facto não há tanta falta de sacerdotes como se diz, mas sim da sua melhor distribuição. Há que acrescentar, porém, que a mobilidade também de sacerdotes precisa igualmente de ser complementada com a formação e o acompanhamento necessários à devida integração.
E os serviços da Conferência Episcopal Portuguesa já vão procurando dar resposta a esta necessidade.
Refira-se a propósito o curso de integração missionária que decorreu durante uma semana, de 2ª a 6ª feira, aqui em Fátima, participado por 76 pessoas oriundas de 19 países. São estes alguns dos novos caminhos que o profetismo da Igreja tem de saber percorrer.
Um outro gesto profético vai ser a viagem apostólica do Papa Francisco ao extremo Oriente que se inicia na próxima 2ª feira. O Cardeal Tagle, responsável pelo Dicastério da Missão “ad Gentes”, comentou esta viagem de 13 dias, a 2 continentes e a 4 países, dizendo que o Papa responde à chamada que Jesus lhe faz. Aguarda-o a Indonésia, país predominantemente muçulmano, mas onde os católicos e as instituições da Igreja desempenham importante função no sistema educativo, o que o próprio Governo da Indonésia já reconheceu. Visitará depois a Papua Nova Guiné, considerado um dos países mais despoluídos do Mundo. Aguarda-o, com muito entusiasmo, a população de Timor-Leste e terminará esta viagem apostólica em Singapura, um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Acompanhemos o Papa Francisco nesta viagem apostólica com a nossa oração e estando atentos à sua mensagem, sempre muito ajustada a cada uma das novas situações que encontra.
E finalmente encomendamos à proteção materna de Nossa Senhora este novo ano pastoral, que vai incluir muito do Jubileu Ordinário da Redenção. Com a sua ajuda, queremos experimentar de novo a abundância da Misericórdia divina, a ser derramada sobre todos nós.
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
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Video completo da eucaristia: