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“Prestação de contas” sobre o exercício do Ministério Episcopal

16.1.2025

20 ANOS DE MINISTÉRIO EPISCOPAL NA GUARDA

Faz hoje 20 anos que cheguei à Guarda para aqui exercer o Ministério Episcopal. 

Tem sido meu hábito, invariavelmente, neste dia 16 de janeiro, ir à Sé Catedral ou a outro espaço litúrgico onde a comunidade se reúne para celebrar a Eucaristia e fazer a minha prestação de contas à Diocese sobre o exercício deste Ministério.

E hoje, como não pode deixar de ser, começo por elevar ao Céu a minha ação de graças porque o Senhor nos enviou o Bispo que aguardávamos desde há muito.

Diante Do Senhor Jesus, apraz-me dizer-vos que, pelo que dele conheço – e conheço-o há 22 anos – penso ser a pessoa certa no lugar certo. Vem com vontade determinada de conhecer primeiro e depois dar cumprimento aos desígnios de Deus sobre esta porção do Povo de Deus que peregrina na nossa Diocese da Guarda.

Vamos acolhê-lo bem e, desde a primeira hora, vamos manifestar-lhe a nossa vontade decidida de colaborar com ele para abrir novas portas ao futuro da Diocese.

Nesta minha prestação de contas à Diocese pelo exercício do Ministério Episcopal, que é a última, começo por agradecer ao Senhor os sacerdotes que encontrei e aqueles que Ele me deu a graça de ordenar, os quais são, sem sombra de dúvida, o grande dom de Deus e a grande esperança para esta Diocese. Quero manifestar publicamente o meu reconhecimento pelo trabalho que eles desenvolvem, pois só a sua grande generosidade tem permitido dar resposta às legítimas expetativas dos fiéis e das comunidades paroquiais, assim como aos restantes serviços diocesanos e movimentos de apostolado. 

De facto, em relação à situação de há 20 anos atrás, são menos os sacerdotes que hoje servem a Diocese, mas, graças à sua generosa entrega, os serviços essenciais estão garantidos.

Dou graças a Deus pelos 23 Diáconos Permanentes ordenados ao longo destes 20 anos para a nossa Diocese, dois dos quais já o Senhor chamou para si.

Dou graças pelos serviços diocesanos que o Senhor despertou e continua a despertar para bem das nossas comunidades.

Eles cuidam a formação cristã de todos,  a começar pelas primeiras idades, ajudam a fortalecer o empenho de todas as comunidades no serviço aos mais necessitados, sobretudo os pobres e os doentes, cuidam a celebração da Fé na Liturgia, mas também o bem das nossas famílias assim como a vocação missionária que é própria de todos os discípulos de Cristo  ou procuram que o património que temos espalhado pela Diocese seja defendido e bem aproveitado para serviço da ação pastoral e ainda que a arte da comunicação faça chegar a todos a novidade do Evangelho.

Enfim a organização da formação cristã destinada a todos, de forma sistemática, tem na Escola Teológica de Leigos e Ministérios o instrumento mais adequado. É seu objetivo oferecer a todos a oportunidade de cumprirem a obrigação de progredir continuamente no conhecimento e na vivência da Fé.

Recordo agora as visitas pastorais que, ao longo de 7 anos, me levaram ao encontro das realidades pastorais e outras, nomeadamente as relações com  sociedade civil, através de toda a Diocese, e permitiram identificar caminhos, que, por um lado, ficaram recomendados a cada paróquia ou conjunto de paróquias, com suas anexas, através da respetiva ata lida na assembleia do domingo e deixada no seu arquivo e, por outro, nos ajudaram a descobrir que precisávamos de definir linhas de orientação globais para toda a nossa ação pastoral.

Por isso, quando a maior parte das Dioceses à nossa volta organizava, cada uma delas, o seu Sínodo Diocesano, nós decidimos, depois de duas assembleias gerais do clero (2010 e 2012) preparar e realizar uma assembleia geral de representantes de toda a Diocese, que quisemos preparar em caminhada sinodal, ao longo de três anos e da qual surgiram orientações, com base nas proposições votadas, que estão longe de se encontrarem por inteiro aplicadas.

Quisemos comparar as conclusões desta assembleia com os decretos do último Sínodo Diocesano  realizado na nossa Diocese, corria o ano de 1949.

E na verdade, sobretudo depois da realização do último Sínodo geral sobre a sinodalidade,  tomámos especial consciência de que não podemos esquecer esta vertente essencial da vida da Igreja, a qual se cumpre com sínodos diocesanos, mas também com outras iniciativas, nomeadamente as que valorizam os instrumentos de participação e aconselhamento já previstos no Direito.

Os três instrumentos principais de serviço à sinodalidade da Igreja, que o Código de Direito Canónico recomenda, a saber o Conselho Presbiteral, o Conselho Pastoral Diocesano e o Colégio de Consultores são decisivos e precisam de ser cada vez mais valorizados. Nesse sentido realizou-se em Fátima, no sábado passado, um encontro de representantes dos Conselhos Pastorais Diocesanos de cada uma das Dioceses, para, à luz do documento final do Sínodo sobre a sinodalidade, partilhar experiências e agilizar procedimentos.
Todavia, estes instrumentos não são suficientes. Os Conselhos Paroquiais para os Assuntos Económicos,  os Conselhos Pastorais Paroquiais e sobretudo interparoquiais, assim como o Conselho Pastoral Arciprestal são outros instrumentos que precisamos de optimizar.

A diminuição do número dos sacerdotes obrigou a que mais paróquias estejam confiadas hoje ao mesmo Pároco. Repito, por isso, o meu reconhecimento aos nossos padres pelo sacrifício acrescido que têm corajosamente assumido para darem as necessárias respostas pastorais. Mas, ao mesmo tempo, sentimos que assim nos fica recomendada a urgência de avançarmos na valorização e organização das unidades pastorais, cada uma delas com o seu coordenador (o Pároco), a sua equipa pastoral e o Conselho Pastoral da Unidade pastoral.

Claro que, com tudo isto, ainda  não estamos satisfeitos.

Assim, os diáconos permanentes são verdadeiro dom de Deus; mas  precisamos de saber gerir mais e melhor a sua cooperação com os Párocos e os outros ministérios não ordenados. Aos ministérios ordenados, principalmente, incluindo os Diáconos, continuamos a pedir o esforço necessário para identificar, chamar, motivar, formar e acompanhar os diferentes serviços laicais; e também a preocupação de criar condições para que todos possam participar, o mais ativamente possível, na ação pastoral.

E chegados aqui, impõe-se continuar o esforço para aplicar as orientações que temos definidas para o funcionamento das unidades pastorais. Precisamos de as continuar a implementar, de tal modo que o Pároco se faça acompanhar sempre da sua equipa pastoral para o ajudar nas decisões pastorais e na sua aplicação e também dos outros instrumentos de participação previstos.

A este propósito, apraz-nos  lembrar algumas prioridades apontadas pelo documento final do Sínodo sobre a sinodalidade.

Uma dessas prioridades recomendadas é cuidarmos bem as relações dos ministros ordenados entre si e com os leigos e em geral com os ministérios não ordenados.

Outra é o fortalecimento das relações entre as comunidades cristãs, seja entre as dioceses tuteladas pela mesma Conferência Episcopal e com a Igreja Universal, sejam também as relações de proximidade e cooperação, a nível local, das paróquias entre si, caminhando, assim, para termos cada vez mais uma comunhão de comunidades e  ministérios ao serviço da verdadeira comunhão da Igreja.

Entre as prioridades imediatas da nossa ação pastoral, a nível da Diocese, sublinho duas.

Uma delas é o renovado empenho na pastoral das vocações, sobretudo no Pré-Seminário e na promoção das vocações sacerdotais e, em consequência, o esforço  continuado para renovar o nosso Seminário Maior Interdiocesano para que possamos dar a resposta devida às exigências atuais da formação sacerdotal.

Outra é o empenho na formação permanente de sacerdotes e diáconos, mas também dos outros ministérios laicais. Aqui precisamos de valorizar cada vez mais o serviço da Escola Teológica de Leigos e Ministérios, com esforço redobrado de a implementarmos bem através das paróquias.

Rezo pelo nosso Bispo eleito, a quem agradeço penhoradamente a expressiva mensagem hoje mesmo divulgada nas redes sociais sobre os 20 anos de Ministério Episcopal nesta Diocese, que estamos a celebrar; e termino, dizendo que eu, durante vinte anos, de facto, não tive Bispo, embora fosse Bispo para os outros. A partir de 16 de março próximo, também terei Bispo e espero acertar com ele o serviço que ainda poderei prestar à nossa Diocese.

Guarda, 16 de janeiro de 2025

+Manuel da Rocha Felício