Na sexta-feira passada viveu-se, mais uma vez, a celebração ecuménica nacional integrada na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Por trás deste evento, que teve lugar em Coimbra, esteve o trabalho esmerado da Comissão Ecuménica local que, desta vez, num espaço católico (a Igreja de Nossa Senhora de Lurdes) ofereceu a membros de diversas confissões cristãs a possibilidade de participarem numa celebração onde todos se sentiram em casa.
A fonte bíblica inspiradora foi a parábola do Bom Samaritano, que, no momento próprio, foi comentada pelo Presidente do Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC) e também pelo Bispo de Coimbra.
A parábola responde à pergunta – quem é o meu Próximo?
À primeira vista, a sensação comum é que próximo é aquele ou aquela que pertence à nossa família, ou ao nosso grupo de amigos; aquele ou aquela que partilha as nossas ideias e colabora nos nossos projetos; enfim próximo, de imediato, parece ser aquele ou aquela que faz grupo comigo para defender os seus e os meus interesses.
A resposta da parábola, porém, é outra e representa, de facto, uma grande novidade, que nem o levita nem o sacerdote ainda tinham percebido.
Próximo é simplesmente aquele que usa de misericórdia seja para quem for. E neste caso da parábola, o caído à beira da estrada não era da família, não era do grupo de amigos. Era um estrangeiro e mesmo inimigo, pois os samaritanos não se davam com os judeus. Mas foi para este judeu que aquele samaritano voltou o seu olhar de misericórdia, fazendo dele o seu próximo. Como diz o texto evangélico, aproximou-se e tratou-lhe das feridas, derramou nelas óleo e vinho, colocou-o na sua própria montada e levou-o para uma estalagem onde cuidou dele. Pagou, entregou-o aos cuidados do estalajadeiro e partiu com a promessa de voltar para pagar o que mais fosse necessário.
E nós somos convidados a fazer da mesma maneira.
De facto, hoje somos um país onde quase 10% dos residentes são estrangeiros (as estatísticas falam em 800 mil). E nós precisamos de fazer de cada um e cada uma destes que nos procuram verdadeiramente um próximo. Isso implica oferecer-lhes as condições de vida que queremos para nós, usando de misericórdia para com eles.
Portugal precisa de quem venha de fora participar na aventura do desenvolvimento, esse é facto indesmentível. Mas precisa também de criar condições de acolhimento, acompanhamento e inserção que permitam a quem vem deixar de ser intruso e passar a ser parceiro da vida em sociedade, com todos os direitos e deveres inerentes.
Esta Semana de oração pela Unidade dos Cristãos, com a proposta que faz para entendermos bem quem é o nosso próximo e lembrando a todos o princípio evangélico do “amarás o Senhor teu Deus … e teu próximo como a ti mesmo” é também um bom contributo para afirmar a novidade que temos de assumir sobre quem é realmente o nosso próximo.
22.01.2024