Iniciamos hoje, e com esta celebração, a Semana Santa, a Semana Maior, como o Povo lhe chama, não porque tenha mais dias ou mais horas, mas porque celebra o acontecimento Maior da História – o Mistério Pascal.
À entrada triunfal de Jesus na cidade santa de Jerusalém, que hoje quisemos representar na procissão dos ramos, a partir da Igreja da Misericórdia, seguiu-se o drama da Paixão e Morte. Por isso, a leitura da Paixão segundo S. Marcos, que acabámos de ouvir, pretende introduzir-nos na contemplação do Mistério deste drama, que vamos celebrar, ao longo de toda a semana santa, principalmente no Tríduo Pascal.
E para introduzir essa meditação partimos das palavras de Jesus pronunciadas no alto da cruz e que constituem o refrão do salmo responsorial de hoje – “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?”.
E este abandono teve, de facto, expressões bem visíveis.
Assim, foram os discípulos que fugiram.
Foi o caso da traição de Judas, que O entregou, depois de negociar com as autoridades judaicas o preço dos trinta dinheiros.
Os maus-tratos e os dois julgamentos que lhe fizeram um em casa de Caifás, outro diante de Pilatos foram a expressão mais forte desse abandono, que continuou, pelas ruas de Jerusalém, na caminhada para o Calvário, e depois na crucifixão e na morte.
Mas este abandono, ao longo d todo o seu percurso, teve exceções, como foram os casos de Sua Mãe Maria Santíssima e do discípulo amado, das piedosas mulheres de Jerusalém, de Nicodemos e de José de Arimateia, aquele que ofereceu a Jesus o lugar da sua sepultura.
E tais exceções também foram sinais de que Jesus, de facto, não foi abandonado pelo Pai, que sempre esteve com Ele e acompanhou o seu Filho amado na tarefa árdua que lhe entregou de dar a vida pela salvação do mundo.
A Ressurreição virá desfazer todas as dúvidas.
Vamos viver esta semana santa de olhar concentrado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
E podemos deixar-nos ajudar também por muitos dos eventos, culturais que estão anunciados para se realizarem nesta cidade e lugares vizinhos.
Assim, para além das celebrações do Tríduo Pascal, envolvendo a comemoração da última Ceia e da instituição da Eucaristia, em Quinta-feira Santa, da celebração da Paixão e Morte de Cristo e da Procissão do enterro, em Sexta-Feira Santa e da Vigília Pascal na noite de Sábado Santo, estão anunciados outros eventos que também nos podem ajudar a fixar a atenção na verdade dos acontecimentos representados e celebrados.
Entre eles, lembro a encomendação das almas, o percurso das alminhas, os cantares dos Martírios do Senhor, os concertos de Páscoa e o teatro religioso.
Saudamos todas estas iniciativas promovidas por instituições diversas e fazemos votos por que todas possam encaminhar-nos para a autêntica verdade dos acontecimentos nelas representados.
O grande objetivo tem de ser sempre voltar a nossa atenção para a Pessoa de Cristo, crucificado, morto e Ressuscitado; para depois sabermos olhar o mundo com o mesmo olhar de Cristo e vermos como lhe havemos de apresentar a novidade do Evangelho, dialogando com as pessoas e suas diferentes instituições.
Peçamos a Nossa Senhora que nos ensine e nos acompanhe, particularmente ao longo desta Semana Santa, na contemplação do Mistério Pascal, com suas implicações na nossa vida pessoal, na vida da Igreja e sua relação com a vida do mundo.
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda