“Se eles se calarem, clamarão as pedras” (Lc 19,40)
Na celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, D. José Miguel, Bispo da Guarda, convida-nos a meditar sobre o contraste entre palavras e silêncios na narrativa da Paixão.
Cada silêncio, longe de ser vazio, carrega um significado profundo que interpela a nossa vida e a nossa fé.
O silêncio de Pilatos é o silêncio cobarde de quem teme as consequências. É o silêncio de quem prefere manter uma paz aparente, sacrificando a justiça, ou transfere responsabilidades para não decidir.
O silêncio de Herodes é o da indiferença e da desilusão. Um silêncio que brota do despeito por não poder usar Jesus a seu favor. É o silêncio frio de quem devolve Jesus à sua sorte, sem compaixão nem verdade.
O silêncio de Jesus, pelo contrário, é cheio de sentido. É o silêncio do Servo fiel, que aceita o sofrimento sem se defender, que recusa a violência, que permanece firme na missão recebida do Pai. É o silêncio da oração confiante, do abaixamento humilde, do último suspiro que dá sentido à nossa dor e à nossa esperança. Jesus cala-se para que fale o amor até ao fim.
O silêncio de Deus Pai pode parecer abandono, mas é o silêncio do mistério da salvação. Através da morte do Filho, Deus está presente com amor salvador, rompendo as cadeias da morte e abrindo o caminho da vida nova.
Nestes silêncios, Deus fala.
Fala às nossas contradições, abre-nos novos caminhos, torna possível a conversão e sustenta-nos no seguimento de Jesus.
Neste Domingo de Ramos, ao acolhermos Cristo com ramos e aclamações, somos convidados a escutar também os silêncios que revelam o verdadeiro rosto de Deus e o caminho da nossa redenção.