Celebramos hoje o Domingo do Bom Pastor, que coincide sempre com o IV Domingo da Páscoa. E também assinalamos o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o que acontece anualmente, desde há 60 anos a esta parte, tendo sido inaugurado pelo Papa S. Paulo VI, quando ainda decorria o Concílio Vaticano II.
A figura do Bom Pastor é-nos apresentada no Evangelho de S. João que acabámos de escutar. Aí aparece o contraste entre o Bom Pastor e o mercenário,
O Bom Pastor conhece todas e cada uma das suas ovelhas e trata-as pelo nome e elas também o conhecem. Acompanha-as e defende-as, se necessário sacrificando por elas a sua própria vida.
Contrariamente, o mercenário não passa de um negociante, que não ama nem estima as ovelhas, mas somente quer o lucro que elas lhe possam dar. Por isso, diante dos perigos, abandona-as à sua sorte e foge, deixando que os lobos as dispersem e matem.
Isso não acontece com o Bom Pastor, que, de facto, entrega a sua vida por elas. No final desta passagem do Evangelho o mesmo Jesus apresenta-nos o sonho de que toda a humanidade venha a ser um só rebanho com um só pastor. Por isso, lembra que há outras ovelhas que não são deste redil, mas é preciso trabalhar para as reunir de tal maneira que se venha a cumprir esse seu sonho.
Como fica dito, sabemos que este Bom Pastor é Jesus, o qual, chama alguns para os constituir seus representantes através do Sacramento da Ordem, na condução do Povo de Deus. E nós hoje rezamos por eles, que são portadores do Ministério Sacerdotal, para que progridam na sua identificação pessoal com Cristo e, assim, cumpram a alta e exigente missão que lhes está confiada.
É natural que a mesma rejeição que Cristo sofreu a venham a sofrer também estes seus representantes, porque o discípulo não é mais do que o Mestre. E de facto, como nos lembra hoje o livro dos atos dos Apóstolos, Jesus é a pedra rejeitada pelos construtores, mas que veio a tornar-se pedra angular da nova construção que é a Sua Igreja, à qual também, como seus representantes, no exercício do Ministério Sacerdotal, queremos entregar toda a nossa vida.
Nem sempre, porém, isto acontece.
Porque, já desde os tempos dos profetas, existem alguns com o nome de pastores, mas que são o contrário do verdadeiro pastor. Por isso, o profeta, neste caso o Profeta Ezequiel, apresenta-nos a decisão do próprio Deus que resolve assumir diretamente a função de pastorear o Seu Povo, dispensando o serviço desses maus pastores.
Também nós hoje, portadores do Ministério Sacerdotal, diante do único Bom Pastor que é Jesus, queremos fazer o nosso exame de consciência e ver como o estamos a representar na condução das ovelhas.
Como ele, queremos conhecê-las, ouvi-las, dar-lhes o nosso tempo e a nossa atenção, curá-las e defendê-las, se necessário, até ao sacrifício da nossa vida.
Juntamente com este nosso exame de consciência, também queremos pedir aos fiéis, neste dia, uma oração especial para sabermos ajustar bem a nossa vida, no conjunto das suas decisões e comportamentos, ao exemplo do único Bom Pastor, Jesus Cristo.
Na sua mensagem para este Dia Mundial de Oração pelas Voca-ções, o Papa Francisco lembra-nos que a vocação é a realidade mais importante na vida de cada pessoa e que acontece em todos, porque todos somos chamados a semear a esperança e a construir a paz, como ele diz, em título da sua mensagem, embora pro caminhos distintos, que se completam. Por isso, este Dia Mundial de Oração pelas Vocações é, em primeiro lugar, para cada um de nós, diante do Senhor, recordar com gratidão o compromisso fiel, diário e muitas vezes escondido da sua própria vocação.
E o Papa passa a recordar as distintas vocações, como é o caso das mães e dos pais que não olham primeiro para si mesmos, mas organizam as suas vidas para cuidarem, com amor e em absoluta gratuidade, o bem dos filhos; recorda as vocações voltadas para a construção de uma sociedade mais justas, dando como exemplos a posta no trabalho digno ou na economia e na política ajustadas ao bem comum das pessoas. Lembra as vocações de especial consagração de quantos oferecem sem condições a sua vida ao Senhor, quer no silêncio da oração quer na ação apostólica. Lembra igualmente, como não podia deixar de o fazer, quantos são chamados à vocação do sacerdócio ordenado e, por esse caminho, se dedicam ao núncio do Evangelho, repartindo a sua vida pelos irmãos juntamente com o Pão da Eucaristia; e assim procuram semear a paz e mostrar a todos a beleza do Evangelho.
A este propósito do bem fundamental que é para a Igreja a vocação sacerdotal, no Sacerdócio Ordenado, cito as palavras que o Papa Francisco ontem mesmo, à tarde, dirigiu a um grupo de seminaristas, dizendo-lhes: “Com o coração em Deus, de braços abertos e sorriso rasgado nos lábios, partilhai a alegria do Evangelho com todos os que encontrardes”.
É esta alegria do Evangelho que também queremos ver cada vez mais espelhada na vida dos nossos padres, para que eles sejam bons diretores de orquestra e orientarem bem todo o Povo de Deus. É que, a este mesmo propósito, o Papa, na sua mensagem para o dia de hoje, fala da polifonia dos carismas e vocações que precisamos de saber descobrir, formar, animar e conjugar para bem de todos. E desta maneira, continua o Papa, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a Marca da sinodalidade, porque, graças a Deus, há muitos carismas e nós somos chamados a discernir juntos cada um deles, na luz do Espírito Santo e para bem de todos.
Pedimos, a terminar, a intercessão de Maria Santíssima para que a sua experiência única de primeira discípula no seguimento de Cristo nos ajude a segui-lo também, na fidelidade à nossa vocação.
21.4.2024
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda