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Reflexão episcopal – quarta feira de cinzas

Iniciamos hoje, Quarta-Feira de Cinzas,  o Tempo da Quaresma.

Esse tempo favorável que nos põe a caminho da Páscoa, convidando-nos  à conversão e à penitência.

De conversão nos fala hoje o Profeta Joel, como acabámos de escutar.

E esse é o convite do próprio Deus, convite a rasgar os nossos corações e não apenas as nossas vestes. Por outras palavras, convite a que a conversão não se fique pelas expressões de exterioridade, mas que opere, de verdade,  a mudança dos nossos corações.

 Na conversão, o que está em causa é abrir as portas a Deus e às suas recomendações e fechá-las a tudo o que é contrário ao Evangelho e consequentemente ao bem das pessoas, incluindo o nosso bem pessoal.

O mesmo Deus espera essa conversão, transmitindo-nos a certeza de que terá compaixão de nós como a teve do seu Povo em muitas situações ao longo da história.

Entrámos hoje no tempo especialmente favorável para fazermos a mudança das nossas vidas, a Quaresma  e, por isso, é tempo de salvação. Nela ressoa de novo o apelo do Apóstolo Paulo aos coríntios – reconciliai-vos com Deus e, na medida da nossa resposta a este convite, em Cristo nos tornamos também justiça de Deus.

A oração, o jejum e a esmola continuam a ser caminhos indicados para a renovação que o mesmo Deus nos aponta.

Claro que não para quaisquer aplausos humanos ou outra recompensa de ordem material, mas tão só para vivermos, no segredo, a alegria da relação com Deus e da caridade para com os irmãos.

O simbolismo das cinzas que hoje  vamos impor, em nome de Deus e por recomendação das Igreja, conduz-nos ,em primeiro lugar, ao realismo da nossa condição humana, que é limitada no tempo e nas capacidades; da terra vem e à terra volta. Daí a densidade do significado das palavras dirigidas a cada um de nós, no ato da imposição das cinzas – lembra-te homem que és pó e em pó te hás-de tornar. Este é o grande motivo da nossa conversão – convertei-vos e acreditai no Evangelho, pois só em Deus e no seu poder recriador encontramos resposta para o insaciável desejo de viver que continua sempre presente no mais fundo do nosso coração

A Quaresma é o tempo favorável para reconhecermos as nossas limitações e fragilidades; para reconhecermos que somos pó da terra, mas também para aceitarmos os dons de Deus , que, através da observância quaresmal, ele nos concede, sobretudo o perdão dos pecados e a vida nova em Cristo Jesus.

O acolhimento dos dons de Deus fazemo-lo de muitas maneiras, mas principalmente através da mais frequente escuta da Sua Palavra e da oração mais intensa, sempre na mira de nos reconciliarmos uns com os outros e com Deus e sabermos colocar o poder que está nas nossas mãos – muito ou pouco –ao serviço do bem comum.

A prática do jejum, da oração e da esmola aproxima- nos de Deus e contribui para a vida digna dos nossos irmãos, nomeadamente ajudando os doentes, os abandonados na solidão a sentir que não são descartáveis, mas contam e muito para nós e por isso lhe oferecemos os nossos cuidados.

Rezemos por todos nós para sabermos aproveitar da melhor maneira esta Quaresma, fazendo dela caminho de autêntica renovação pascal.

Irmãos e irmãs:

Deixemo-nos guiar pela luz e pela força do Espírito Santo, fazendo caminho conjunto, nesta Quaresma,  rumo à festa da Páscoa.

Na mensagem que dirigimos à nossa Diocese para motivar a caminhada quaresmal lembrámos que é no deserto desta nossa vida que Deus nos aponta os caminhos da autêntica liberdade. O deserto é sempre lugar de dificuldades, provações e tentações; mas como o mesmo Cristo as venceu, também nós, com a Sua graça, temos as necessárias condições para vencer.

Indicámos também a finalidade da nossa renúncia quaresmal para este ano, o ano em que a Liga dos Servos de Jesus celebra o seu centenário. Por isso, encaminhamos essa nossa renúncia quaresmal para apoiar o centro de espiritualidade criado pela mesma Liga dos Servos de Jesus em Angola e está a precisar de renovação.

14.2.2024

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda