Por estes dias acontece em Roma o jubileu da comunicação.
Os profissionais desta área foram motivados a comunicar a esperança de forma a conseguir que esta ocupe o seu lugar na vida das pessoas para que, no meio do caos, das polémicas e dos escândalos que nos invadem todos os dias, possamos encontrar um raio de esperança que nos ajude a construir um mundo melhor, com mais esperança.
Partilhamos o discurso que o Papa Francisco quis partilhar com estes profissionais:
Discurso do Papa por ocasião do Jubileu da Comunicação
Palavras improvisadas
Queridas irmãs e queridos irmãos, bom dia! E muito obrigado por terem vindo!
Nas mãos tenho um discurso de nove páginas. A esta hora, com o estômago a começar a mexer, ler nove páginas seria uma tortura. Vou entregá-lo ao Prefeito, para que ele o faça chegar a vós.
Queria apenas dizer uma palavra sobre a comunicação. Comunicar é sair um pouco de nós próprios para dar algo de nós ao outro. E a comunicação não é apenas sair de nós, mas também encontrar o outro. Saber comunicar é uma grande sabedoria, uma grande sabedoria!
Estou feliz com este Jubileu dos comunicadores. O vosso trabalho é um trabalho que constrói: constrói a sociedade, constrói a Igreja, faz com que todos avancem, desde que seja verdadeiro. “Padre, eu digo sempre a verdade…” – “Mas tu, és verdadeiro? Não apenas as coisas que dizes, mas tu, no teu interior, na tua vida, és verdadeiro?”. É uma prova muito exigente. Comunicar o que Deus faz com o Filho, e a comunicação de Deus com o Filho e o Espírito Santo. Comunicar algo divino. Obrigado pelo que fazem, muito obrigado! Estou feliz.
E agora gostaria de vos saudar, e antes de tudo, dar-vos a bênção.
Discurso entregue
Queridas irmãs e queridos irmãos, bom dia!
Agradeço a todos por terem vindo em grande número e de tantos países diferentes, de perto e de longe. É realmente belo ver-vos todos aqui. Agradeço aos convidados que falaram antes de mim – Maria Ressa, Colum McCann e Mario Calabresi – e agradeço ao maestro Uto Ughi pelo dom da música, que é um caminho de comunicação e de esperança.
Este nosso encontro é o primeiro grande evento do Ano Santo dedicado a um “mundo vital”, o mundo da comunicação. O Jubileu celebra-se num momento difícil da história da humanidade, com o mundo ainda ferido por guerras e violências, pelo derramamento de tanto sangue inocente. Por isso, quero antes de mais agradecer a todos os profissionais da comunicação que colocam a sua vida em risco para procurar a verdade e relatar os horrores da guerra. Desejo recordar em oração todos aqueles que sacrificaram a vida neste último ano, um dos mais mortais para os jornalistas. Rezemos em silêncio pelos vossos colegas que selaram o seu serviço com o próprio sangue.
Quero também recordar convosco todos aqueles que estão presos apenas por terem sido fiéis à profissão de jornalista, fotógrafo, operador de vídeo, por terem querido ver com os próprios olhos e tentado contar o que viram. São tantos! Mas neste Ano Santo, neste Jubileu do mundo da comunicação, peço a quem tem o poder de o fazer que libertem todos os jornalistas injustamente encarcerados. Que se abra também para eles uma “porta” através da qual possam recuperar a liberdade, porque a liberdade dos jornalistas faz crescer a liberdade de todos nós. A liberdade deles é liberdade para cada um de nós.
Peço – como já fiz várias vezes e como também o fizeram antes de mim os meus predecessores – que seja defendida e salvaguardada a liberdade de imprensa e de expressão do pensamento, juntamente com o direito fundamental a ser informado. Uma informação livre, responsável e correta é um património de conhecimento, de experiência e de virtude que deve ser preservado e promovido. Sem isso, corremos o risco de não distinguir mais a verdade da mentira; sem isso, expomo-nos a preconceitos crescentes e polarizações que destroem os laços de convivência civil e impedem a reconstrução da fraternidade.
A profissão de jornalista é mais do que uma profissão. É uma vocação e uma missão. Vocês, comunicadores, têm hoje um papel fundamental para a sociedade, ao relatar os factos e pela forma como o fazem. Sabemos que a linguagem, a atitude, os tons, podem ser determinantes e fazer a diferença entre uma comunicação que reacende a esperança, cria pontes, abre portas, e uma comunicação que, pelo contrário, aumenta as divisões, as polarizações, as simplificações da realidade.
A vossa responsabilidade é peculiar. A vossa tarefa é preciosa. As vossas ferramentas de trabalho são as palavras e as imagens. Mas antes delas vêm o estudo e a reflexão, a capacidade de ver e de ouvir; de se colocarem do lado de quem está marginalizado, de quem não é visto nem ouvido, e também de fazer renascer – no coração de quem vos lê, vos ouve, vos vê – o sentido do bem e do mal, e uma nostalgia pelo bem que contam e que, ao contarem, testemunham.
Neste encontro especial, gostaria de aprofundar o diálogo convosco. E estou grato por poder fazê-lo a partir dos pensamentos e perguntas que dois dos vossos colegas partilharam há pouco.
Maria, falaste da importância da coragem para iniciar a mudança que a história nos pede, a mudança necessária para superar a mentira e o ódio. É verdade, para iniciar mudanças é preciso coragem. A palavra “coragem” deriva do latim cor, cor habeo, que significa “ter coração”. Trata-se daquela força interior, daquela energia que nasce do coração e nos permite enfrentar as dificuldades e os desafios sem sermos vencidos pelo medo.
Com a palavra “coragem” podemos sintetizar todas as reflexões das Jornadas Mundiais das Comunicações Sociais dos últimos anos, até à Mensagem que traz a data de ontem: ouvir com o coração, falar com o coração, preservar a sabedoria do coração, partilhar a esperança do coração. Nestes últimos anos, foi precisamente o coração que me guiou na nossa reflexão sobre a comunicação. Por isso, gostaria de acrescentar ao meu apelo para a libertação dos jornalistas outro “apelo” que nos diz respeito a todos: o apelo à “libertação” da força interior do coração. De cada coração! A responsabilidade de responder a este apelo não recai sobre outros, mas sobre cada um de nós.
A liberdade é a coragem de escolher. Aproveitemos a ocasião do Jubileu para renovar, para reencontrar esta coragem. A coragem de libertar o coração daquilo que o corrompe. Recoloquemos o respeito pela parte mais elevada e nobre da nossa humanidade no centro do coração, evitando enchê-lo com o que o deteriora e o faz apodrecer. As escolhas de cada um de nós são importantes, por exemplo, para afastar aquela “putrefação cerebral” causada pela dependência do scrolling contínuo nas redes sociais, algo que o Dicionário de Oxford definiu como “palavra do ano”. Onde encontrar a cura para esta doença, senão no trabalho conjunto, de todos nós, para a formação, sobretudo dos jovens?
Precisamos de uma alfabetização mediática, para nos educarmos e educarmos ao pensamento crítico, à paciência do discernimento necessário ao conhecimento; e para promover o crescimento pessoal e a participação ativa de cada um no futuro das suas comunidades. Precisamos de empreendedores corajosos, de engenheiros informáticos corajosos, para que a beleza da comunicação não seja corrompida.
Grandes mudanças não podem ser o resultado de uma multidão de mentes adormecidas, mas nascem da comunhão de corações iluminados.
Um coração assim foi o de São Paulo. A Igreja celebra precisamente hoje a sua conversão. A mudança ocorrida neste homem foi tão decisiva que marcou não apenas a sua história pessoal, mas também a de toda a Igreja. E a metamorfose de Paulo foi provocada pelo encontro direto com Jesus ressuscitado e vivo. A força para embarcar num caminho de mudança transformadora nasce sempre da comunicação direta entre as pessoas. Pensem em quanta força de mudança está potencialmente escondida no vosso trabalho, sempre que colocam em contacto realidades que – por ignorância ou preconceito – se opõem! A conversão de Paulo derivou da luz que o envolveu e da explicação que lhe deu Ananias, em Damasco. Também o vosso trabalho pode e deve prestar este serviço: encontrar as palavras certas para aqueles raios de luz que conseguem atingir o coração e nos fazem ver as coisas de forma diferente.
E aqui quero ligar-me ao tema do poder transformador da narrativa, do contar histórias e do ouvir histórias, que o Colum destacou. Voltemos por um momento à conversão de Paulo. O acontecimento é narrado no livro dos Atos dos Apóstolos por três vezes (9,1-19; 22,1-21; 26,2-23), mas o núcleo permanece sempre o encontro pessoal de Saulo com Cristo; a forma de contar muda, mas a experiência fundadora e transformadora permanece inalterada.
Contar uma história é um convite a fazer uma experiência. Quando os primeiros discípulos se aproximaram de Jesus perguntando: «Mestre, onde moras?» (Jo 1,38), Ele não respondeu com o endereço de casa, mas disse: «Vinde e vede» (v. 39).
As histórias revelam que fazemos parte de um tecido vivo; o entrelaçar dos fios com os quais estamos ligados uns aos outros. Nem todas as histórias são boas, e no entanto também estas devem ser contadas. O mal deve ser visto para ser redimido; mas é preciso contá-lo bem para não desgastar os frágeis fios da convivência.
Neste Jubileu, faço então outro apelo a todos vocês aqui reunidos e aos comunicadores de todo o mundo: contem também histórias de esperança, histórias que alimentam a vida. Que o vosso storytelling seja também hopetelling. Quando contam o mal, deixem espaço para a possibilidade de reparar o que está rompido, para o dinamismo do bem que pode restaurar o que está quebrado. Semeiem interrogações. Contar a esperança significa ver os fragmentos de bem escondidos, mesmo quando tudo parece perdido; significa permitir que se espere contra toda a esperança. Significa reconhecer os rebentos que surgem mesmo quando o solo está ainda coberto de cinzas. Contar a esperança significa ter um olhar que transforma as coisas, tornando-as naquilo que poderiam e deveriam ser. Significa colocar as coisas a caminhar em direção ao seu destino.
Este é o poder das histórias. E é isso que vos encorajo a fazer: contar a esperança, partilhá-la. Esta é – como diria São Paulo – a vossa “boa batalha”.
Obrigado, caros amigos! Abençoo de coração todos vós e o vosso trabalho. E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim.
Tradução direta (não oficial) do original Italiano – o texto pode não estar em Português totalmente correto.
Imagem: Ricardo Perna