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Sé: Homilia da eucaristia de ordenação

Louvamos o Senhor, porque Ele nos congrega hoje, nesta nossa Sé, para vivermos a alegria de mais uma Ordenação Sacerdotal; que, como tal, constitui um verdadeiro voto de confiança e um gesto de amor que o mesmo Senhor dirige não só ao Tiago, que se apresenta para ser ordenado, mas a todo o Povo de Deus e em particular à nossa Diocese e ao seu Presbitério.

Escutámos a Palavra de Deus e com ela olhamos para a experiência de vida do profeta Jeremias, diante da qual também nós sentimos que o Senhor da vida nos ama e nos escolheu, antes mesmo de ter começado a nossa existência pessoal, desde toda a eternidade.

E, por isso, nos anima a consolação daquelas palavras que lhe são dirigidas – não tenhas medo, porque eu estou contigo.

O Evangelho de hoje chama-nos a decidir a nossa vida em função do serviço e não das importâncias que nos pode dar qualquer carreira, mesmo que seja eclesiástica. Para nós o que conta é o exemplo de Cristo, Ele que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção do mundo.

São igualmente para nós as recomendações do Apóstolo Paulo, que nos manda proceder com humildade, mansidão e paciência, suportando-nos uns aos outros com caridade, para mantermos a unidade de espírito pelo vínculo da paz. De facto, só assim poderemos contribuir para a construção do único corpo de Cristo conjugando bem nesse sentido a variedade dos carismas e ministérios.

Estimado Tiago Fonseca, hoje dirigimos contigo e por ti uma oração muito especial ao Senhor Pai Santo Deus Eterno e Omnipotente. E nela começamos por reconhecer que Ele próprio quer fazer das nossas comunidades um verdadeiro Povo Sacerdotal; e para isso estabelece em diversas ordens os ministérios, que faz funcionar pelo poder do Espírito Santo, como é o caso do segundo grau da Ordem do Ministério Ordenado que hoje te vai ser conferido. E tu, uma vez configurado com Cristo Pastor pelo Sacramento da Ordem, ficas associado á missão do mesmo Jesus Cristo, como aconteceu com os apóstolos e seus sucessores.

Por isso, lhe queremos expressar, em clima de oração, o nosso profundo agradecimento pelo dom. do novo sacerdote que hoje nos oferece, na tua pessoa, e que vem fortalecer o vigor do nosso Presbitério e ajudar a superar as fragilidades que a todos nos tocam e que, na realidade, sentimos.

E que a oração, em comunhão como Bispo e o Presbitério, seja, a partir de agora, em ti, um hábito adquirido, para bem do Povo que te vai estar confiado, mas também do mundo inteiro. E tudo isto na preocupação última de que o conjunto das nações, congregadas em Cristo, se venha a converter num só povo e a constituir uma única família.

Tiago, estas são as grandes metas que hoje se colocam á tua frente e, em função delas, hás-de saber, na comunhão em Presbitério e particularmente com o teu Bispo, fazer opções e assumir responsabilidades concretas.

De facto, tens pela frente, ao assumir hoje o Ministério Sacerdotal, importantes desafios, como é, no nosso caso, a necessidade de fazer funcionar a reorganização pastoral da Diocese, que não basta estar decretada, mas que é preciso cumprir. Está em causa levar a prática sinodal a todas as instâncias da ação pastoral e seus agentes.

Não te escondo o excesso de trabalho que, na generalidade, os nossos padres estão a sentir.

Pedimos-te por isso que venhas animado pelo desejo de trabalhar para que cresça a cooperação entre nós sacerdotes e de todos nós com os diáconos e os outros ministérios e serviços laicais.

Se Deus nos tem oferecido menos sacerdotes, nos últimos tempos, Ele lá sabe bem porquê. Mas temos aqui um indicador.

Por sua vez, a boa relação entre nós sacerdotes é condição sine qua non para conseguirmos promover a desejada comunhão de carismas e ministérios, ao serviço da comunhão de todo o Povo de Deus.

Certamente que já te fizeram sentir, de muitas maneiras, quer no Seminário, quer nos tempos de estágio, que, sem uma espiritualidade sacerdotal forte, nada de bom podemos conseguir no exercício da Ministério Sacerdotal e em particular nos serviços concretos que nos são pedidos.

É por isso que a oração, os tempos reservados para o Senhor das nossas vidas e do mesmo Ministério, especialmente os tempos fortes de retiro, com que ficamos comprometidos, são decisivos. E desde já rezo pelo retiro anual dos nossos padres, que começa amanhã.

Nos vários diálogos que tivemos antes deste momento solene da tua Ordenação Sacerdotal, falámos da importância decisiva que tem para nós a vida em Presbitério e principalmente a Fraternidade Sacramental que nos é recomendada.

Também esta Fraternidade Sacramental não acontece por geração espontânea. Exige empenho da nossa parte, sabendo nós que o dom de Deus esse está sempre garantido.

Desta Fraternidade Sacramental, na medida em que a soubermos cuidar, nascerão, com naturalidade, as equipas sacerdotais, sem dúvida, realidades que sobretudo o futuro, mas também já o presente da nossa realidade diocesana, estão a pedir.

Sobre este e outros assuntos é necessário diálogo espontâneo e constante com o Bispo e entre nós Sacerdotes.

E quando houver coisas a corrigir, o que é a coisa mais natural deste mundo, convém ter sempre a coragem de ir direto ao assunto, na relação direta com os implicados, sem passar por terceiros, sabendo que a correção fraterna tem de fazer parte da nossa forma de estar na vida.

Quero saudar os teus pais e restantes familiares, de forma especial, neste momento solene, pelo ambiente e testemunho de Fé que te souberam criar para poderes identificar a tua vocação e a seguires. E pedir ao Senhor para todas as famílias a graça de criarem para seus filhos as condições necessárias para que eles possam discernir bem e seguir a sua vocação.

30.6.2024

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

 

foto – Pedro Delgado