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Setembro, tempo de amar e cuidar 

Eis que entre tanto que vivemos no último mês, chegou Setembro, e com ele, há uma  certa rotina que retoma o seu curso. As aldeias voltam a ficar mais silenciosas, as escolas  abrem-se de novo, os dias começam a encurtar, e a terra, afadigada do Verão, pede  descanso e cuidado. 

É também neste tempo que a Palavra de Deus nos recorda o essencial: «Qual é o maior  mandamento?» — perguntam a Jesus. E Ele responde com a simplicidade e a força que  atravessam a História: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a  tua alma e com todo o teu entendimento. O segundo é semelhante a este: Amarás o teu  próximo como a ti mesmo» (Mt 22,34-40). 

Como todos bem sabemos, o amor a Deus não se pode separar nunca do amor ao  próximo, nem o amor ao próximo se pode desligar do cuidado da criação que é casa de  todos. Amar é também proteger: proteger a vida, proteger a terra, proteger o futuro. 

Este Setembro, é infelizmente, uma vez mais marcado pela memória dolorosa dos  incêndios, que assolaram quase a totalidade do nosso território diocesano. As chamas  que devoraram as florestas, as casas e as vidas são, antes de mais, um forte apelo a  reverter o esquecimento e o egoísmo, e a semear gestos concretos de respeito pelas  pessoas, que habitam a Terra interior que nos sustenta. 

Mas Setembro não é apenas tempo de luto ou de balanço. É tempo de semear, de  recomeçar, de aprender com o que ardeu, para que da cinza brote vida nova. E é também  tempo de oração: por todos os que regressam ao seu ritmo, pelos estudantes que se  sentam de novo nas suas mesas, pelos agricultores e pastores que esperam a chuva, e  por todos aqueles que carregam no coração feridas mais profundas que não se apagam  com o fim do Verão. 

Parece-me que Setembro nos quer ensinar, que o verdadeiro amor não se esgota nas  palavras bonitas, mas tem forçosamente de traduzir-se em gestos concretos. Amar a  Deus é também não ficar indiferente ao vizinho em dificuldade; amar o próximo é  também não desperdiçar a água, não abandonar o lixo, não ferir a Terra que é dom. 

Porque o fogo do Amor é o único que não destrói: ilumina, aquece, e dá vida. E é esse fogo — e só esse — que queremos que subsista.

João Marçalo