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Sínodo: Alguns tópicos colocados à nossa reflexão diocesana

Caminho Sinodal

Tópicos – Questões a aprofundar

TODOS DISCÍPULOS, TODOS MISSIONÁRIOS 

A IGREJA É MISSÃO 

Convergências 

  • a) Mais que dizer que a Igreja tem uma missão, afirmamos que a Igreja é missão. «Como o Pai me enviou, também Eu vos envio» (Jo 20,21): a Igreja recebe de Cristo, o Enviado do Pai, a sua própria missão. Sustentada e guiada pelo Espírito Santo, ela anuncia e testemunha o Evangelho a todos os que não o conhecem ou não o acolhem, com essa opção preferencial pelos pobres que está radicada na missão de Jesus. Deste modo concorre para o advento do Reino de Deus, do qual «constitui o germe e o princípio» (cf. LG 5). 
  • b) Os sacramentos da iniciação cristã conferem a todos os discípulos de Jesus a responsabilidade da missão da Igreja. Leigos e leigas, consagradas e consagrados, e ministros ordenados têm igual dignidade. Receberam carismas e vocações diversas e exercem papéis e funções diferentes, todos eles chamados e nutridos pelo Espírito Santo para formar um só corpo em Cristo. Todos discípulos, todos missionários, na vitalidade fraterna de comunidades locais que experimentam a suave e confortante alegria de evangelizar. O exercício da corresponsabilidade é essencial para a sinodalidade e é necessário a todos os níveis da Igreja. Todo o cristão é uma missão neste mundo. 
  • c) A família é coluna de suporte de cada comunidade cristã. Os pais, os avós e todos os que vivem e partilham a sua fé em família são os primeiros missionários. A família, enquanto comunidade de vida e de amor, é um lugar privilegiado de educação à fé e à prática cristã, que necessita de um particular acompanhamento dentro das comunidades. É necessário apoiar sobretudo os pais que devem conciliar o trabalho, mesmo dentro da comunidade eclesial e no serviço da sua missão, com as exigências da vida familiar. 
  • d) Se a missão é graça que empenha toda a Igreja, os fiéis leigos contribuem de modo vital para a realizar em todos os ambientes e nas situações mais ordinárias de cada dia. São, sobretudo, eles que tornam presente a Igreja e que anunciam o Evangelho na cultura do ambiente digital, que tem um impacto tão forte em todo o mundo, nas culturas juvenis, no mundo do trabalho, da economia e da política, das artes e da cultura, da pesquisa científica, da educação e da formação, no cuidado da casa comum e, de modo particular, na participação na vida pública. No lugar onde estão presentes, eles são chamados a testemunhar Jesus Cristo na vida quotidiana e a partilhar explicitamente a fé com outros. De modo particular, os jovens, com os seus dons e as suas fragilidades, enquanto crescem na amizade com Jesus, fazem-se apóstolos do Evangelho entre os seus contemporâneos. 
  • e) Os fiéis leigos são cada vez mais presentes e ativos também no serviço dentro das comunidades cristãs. Muitos deles organizam e animam comunidades pastorais, prestam serviço como educadores da fé, teólogos e formadores, animadores espirituais e catequistas, e participam em vários organismos paroquiais e diocesanos. Em muitas regiões, a vida das comunidades cristãs e a missão da Igreja articulam-se na figura dos catequistas. Além disso, os leigos prestam serviço no âmbito da proteção (safeguarding) e da administração. O seu contributo é indispensável para a missão da Igreja; por isso mesmo, é preciso cuidar de que obtenham as competências necessárias. 
  • f) Os carismas dos leigos, na sua variedade, são dons do Espírito Santo à Igreja que devem ser realçados, reconhecidos e valorizados a pleno título. Nalgumas situações pode acontecer que os leigos sejam chamados a suprir à carência de sacerdotes, com o risco de que o caráter propriamente laical do seu apostolado acabe diminuído. Noutros contextos, pode acontecer que os presbíteros façam tudo e os carismas e os ministérios dos leigos sejam ignorados ou subutilizados. Sente-se ainda o perigo, expresso por muitos na Assembleia, de “clericalizar” os leigos, criando uma espécie de élite laical que perpetua as desigualdades e as divisões no Povo de Deus. 
  • g) A prática da missão ad gentes dá corpo a um enriquecimento recíproco das Igrejas, porque não envolve apenas os missionários, mas toda a comunidade, que é estimulada à oração, à partilha dos bens e ao testemunho. Mesmo as Igrejas pobres de clero não devem renunciar a este esforço, ao passo que aquelas onde há mais florescimento de vocações ao ministério ordenado podem abrir-se à cooperação pastoral, numa lógica genuinamente evangélica. Todos os missionários – leigos e leigas, consagradas e consagrados, diáconos e presbíteros, em particular os membros de institutos missionários e os missionários fidei donum – em virtude da sua vocação específica, são um recurso importante para criar laços de conhecimento e de permuta de dons. 
  • h) A missão da Igreja é continuamente renovada e alimentada pela celebração da Eucaristia, de modo particular quando se coloca em primeiro plano o seu caráter comunitário e missionário.  

Questões a aprofundar 

  • i) É necessário continuar a aprofundar a compreensão teológica das relações entre carismas e ministérios em perspetiva missionária. 
  • j) O Vaticano II e o magistério sucessivo apresentam a missão distintiva dos leigos em termos de santificação das realidades temporais ou seculares. Todavia, no concreto da prática pastoral, a nível paroquial, diocesano e, recentemente, também universal, cada vez mais se confia a leigos cargos e ministérios dentro da Igreja. A reflexão teológica e as disposições canónicas devem ser conciliadas com estes importantes desenvolvimentos e esforçar-se por evitar dualismos que poderiam comprometer a perceção da unidade da missão da Igreja. 
  • k) Na promoção da corresponsabilidade de todos os batizados pela missão, reconhecemos as capacidades apostólicas das pessoas com deficiência. Desejamos valorizar o contributo à evangelização que vem da imensa riqueza de humanidade que transportam consigo. Reconhecemos as suas experiências de sofrimento, marginalização, discriminação, por vezes sofridas até no interior da própria comunidade cristã. 
  • l) Há que reorganizar as estruturas pastorais, de modo a ajudar as comunidades a fazer emergir, reconhecer e animar os carismas e os ministérios laicais, inserindo-os no dinamismo missionário da Igreja sinodal. Guiadas pelos seus pastores, as comunidades serão capazes de enviar e apoiar aqueles que enviaram. Entender-se-ão, portanto, principalmente ao serviço da missão que os fiéis levam por diante no interior da sociedade, na vida familiar e laboral, sem se concentrar exclusivamente nas atividades que se desenrolam no seu interior e nas suas necessidades organizativas. 
  • m) A expressão “uma Igreja toda ministerial”, utilizada no Instrumentum laboris, pode prestar-se a falsas interpretações. Aprofunde-se o seu significado, para esclarecer eventuais ambiguidades.  

Propostas 

  • n) Percebe-se a necessidade de uma maior criatividade na instituição de ministérios tendo por base as exigências das Igrejas locais, envolvendo de modo particular os jovens. Pode-se pensar em ampliar ainda mais as tarefas atribuídas ao ministério instituído do leitor, que, já hoje, não se limitam ao papel que desempenham durante as liturgias. Deste modo, poder-se-ia configurar um verdadeiro ministério da Palavra de Deus, que, em contextos apropriados, poderia incluir também a pregação. Explore-se também a possibilidade de instituir um ministério a conferir a casais comprometidos em apoiar a vida familiar e a acompanhar as pessoas que se preparam para o sacramento do matrimónio. 
  • o) Convidam-se as Igrejas locais a identificar formas e ocasiões para dar visibilidade e reconhecimento comunitário aos carismas e ministérios que enriquecem a comunidade. Isto poderia acontecer por ocasião de uma celebração litúrgica na qual se lhes entrega o mandato pastoral. 

AS MULHERES NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA  

Convergências 

  • a) Fomos criados homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus. Desde o princípio, a criação articula unidade e diferença, conferindo a mulheres e homens uma natureza, uma vocação e um destino partilhados e duas experiências distintas do humano. A Sagrada Escritura testemunha a complementaridade e a reciprocidade de mulheres e homens. Nas múltiplas formas em que se realiza, a aliança entre o homem e a mulher está no centro do projeto de Deus para a criação. Jesus considerava as mulheres suas interlocutoras: falava com elas sobre o Reino de Deus e acolhia-as entre os discípulos, como por exemplo Maria de Betânia. Estas mulheres fizeram experiência do seu poder de cura, de libertação e de reconhecimento e caminharam com Ele na estrada da Galileia até Jerusalém (cf. Lc 8,1-3). Confiou a uma mulher, Maria Madalena, a missão de anunciar a ressurreição na manhã de Páscoa. 
  • b) Em Cristo mulheres e homens são revestidos da mesma dignidade batismal e recebem em igual medida a variedade dos dons do Espírito (cf. Gl 3,28). Homens e mulheres são chamados a uma comunhão caraterizada por uma corresponsabilidade não competitiva, que deve ser encarnada em todos os níveis da vida da Igreja. Como nos disse o Papa Francisco, somos, pelo contrário, «povo convocado e chamado com a força das bem-aventuranças». 
  • c) Durante a Assembleia experimentámos a beleza da reciprocidade entre mulheres e homens. Juntos relançamos o apelo das precedentes fases do processo sinodal, e pedimos à Igreja para crescer no compromisso de compreender e acompanhar as mulheres, do ponto de vista pastoral e sacramental. As mulheres desejam partilhar a experiência espiritual de caminhar juntos rumo à santidade nas diferentes fases da vida: como jovens, como mães, nas relações de amizade, na vida familiar em todas as idades, no mundo do trabalho e na vida consagrada. Reclamam justiça na sociedade ainda profundamente marcada por violência sexual e desigualdades económicas, e pela tendência a tratá-las como objetos. Carregam as cicatrizes do tráfico de seres humanos, das migrações forçadas e das guerras. O acompanhamento e a promoção decidida das mulheres caminham lado a lado.  
  • d) As mulheres constituem a maioria das pessoas que frequentam as igrejas e são, muitas vezes, as primeiras missionárias da fé na família. As consagradas, na vida contemplativa e na apostólica, constituem um dom, um sinal e um testemunho de importância fundamental no meio de nós. A longa história de mulheres missionárias, santas, teólogas e místicas é uma poderosa fonte de inspiração e alimento para as mulheres e para os homens do nosso tempo. 
  • e) Maria de Nazaré, mulher de fé e mãe de Deus, continua a ser para todos uma extraordinária fonte de significado do ponto de vista teológico, eclesial e espiritual. Maria recorda-nos o chamamento universal a escutar Deus com atenção e a permanecer abertos ao Espírito Santo. Conheceu a alegria de dar à luz e fazer crescer, e suportou a dor e o sofrimento. Deus à luz em condições de precariedade, fez a experiência de ser refugiada e viu o vexame do assassínio brutal do seu Filho. Mas também conheceu o esplendor da ressurreição e a glória do Pentecostes.  
  • f) Muitas mulheres exprimiram a sua profunda gratidão pelo trabalho de sacerdotes e bispos, mas também falaram de uma Igreja que fere. Clericalismo, machismo e um uso inapropriado da autoridade continuam a deturpar o rosto da Igreja e causam dano à comunhão. É necessária uma profunda conversão espiritual como base para qualquer mudança estrutural. Abusos sexuais, de poder e económicos continuam a clamar por justiça, cura e reconciliação. Perguntamo-nos de que forma poderá a Igreja tornar-se um espaço capaz de proteger a todos. 
  • g) Quando na Igreja a dignidade e a justiça nas relações entre homens e mulheres saem lesadas, fica enfraquecida a credibilidade do anúncio que damos ao mundo. O processo sinodal mostra que há necessidade de uma renovação das relações e de mudanças estruturais. Deste modo, seremos capazes de acolher melhor a participação e o contributo de todos – leigos e leigas, consagradas e consagrados, diáconos, padres e bispos – enquanto discípulos corresponsáveis pela missão. 
  • h) A Assembleia pede que se evite o erro de falar das mulheres como uma questão ou um problema. Desejamos, antes, promover uma Igreja em que os homens e as mulheres dialogam com o objetivo de compreender melhor a profundidade dos desígnios de Deus, em que aparecem juntos como protagonistas, sem subordinação, exclusão ou competição.  

Questões a aprofundar 

  • i) As Igrejas de todo o mundo formularam com clareza o pedido de um maior reconhecimento e valorização do contributo das mulheres e de um crescimento das responsabilidades pastorais que lhes são confiadas em todas as áreas da vida e da missão da Igreja. Para dar melhor expressão aos carismas de todos e para responder melhor às necessidades pastorais, como é que poderá a Igreja inserir mais mulheres nas funções e nos ministérios existentes? Se forem necessários novos ministérios, a quem cabe fazer o discernimento, a que nível e com qual modalidade?  
  • j) Foram expressas diferentes posições acerca do acesso das mulheres ao ministério diaconal. Alguns consideram que este passo seria inaceitável, na medida em que se encontra em descontinuidade com a Tradição. Para outros, porém, conceder às mulheres o acesso ao diaconado recuperaria uma prática da Igreja das origens. Outros, ainda, discernem neste passo uma resposta apropriada e necessária aos sinais dos tempos, fiel à Tradição e capaz de encontrar eco no coração de muitas pessoas que procuram uma renovada vitalidade e energia na Igreja. Alguns exprimem o receio de que este pedido seja expressão de uma perigosa confusão antropológica; acolhendo-a, a Igreja estaria a alinhar pelo espírito do tempo.  
  • k) O debate a este respeito está também relacionado com a reflexão mais ampla sobre a teologia do diaconado (cf. infra cap. 11, h – i). 

Propostas 

  • l) As Igrejas locais são encorajadas, de modo particular, a alargar o seu serviço de escuta, acompanhamento e cuidado às mulheres que, nos diferentes contextos sociais, estão mais marginalizadas.  
  • m) É urgente garantir que as mulheres possam participar nos processos de decisão e assumir papéis de responsabilidade na pastoral e no ministério. O Santo Padre aumentou de modo significativo o número de mulheres em posições de responsabilidade na Cúria Romana. O mesmo deveria acontecer nos outros níveis da vida da Igreja. Consequentemente, é necessário adaptar o direito canónico. 
  • n) Que se dê seguimento à pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconado, beneficiando dos resultados das comissões propositadamente instituídas pelo Santo Padre e dos estudos teológicos, históricos e exegéticos já realizados. Se possível, os resultados deveriam ser apresentados à próxima sessão da Assembleia. 
  • o) Os casos de discriminação laboral e de remuneração desigual dentro da Igreja devem ser debatidos e resolvidos, particularmente no que concerne às consagradas que, muitíssimas vezes, são consideradas mão de obra barata.  
  • p) É preciso ampliar o acesso das mulheres aos programas de formação e aos estudos teológicos. Insiram-se as mulheres nos programas de ensino e formação dos seminários para favorecer uma melhor formação para o ministério ordenado. 
  • q) Os textos litúrgicos e os documentos da Igreja estejam mais atentos não só ao uso de uma linguagem que tenham em igual consideração os homens e as mulheres, mas também à inserção de uma gama de palavras, imagens e relatos que se inspirem com maior vitalidade na experiência feminina. 
  • r) Propomos que mulheres, com formação adequada, possam ser juízas em todos os processos canónicos.  

A VIDA CONSAGRADA E AS AGREGAÇÕES LAICAIS: UM SINAL CARISMÁTICO  

Convergências 

  • a) Ao longo dos séculos, a Igreja sempre experimentou o dom dos carismas, por meio dos quais o Espírito Santo a rejuvenesce e a renova, desde os mais extraordinários aos mais simples e mais amplamente disseminados. Com alegria e gratidão, o Santo Povo de Deus reconhece neles a ajuda providencial com a qual o próprio Deus sustenta, orienta e ilumina a sua missão. 
  • b) A dimensão carismática da Igreja tem uma manifestação particular na vida consagrada, com a riqueza e a variedade das suas formas. Em cada tempo, o seu testemunho contribuiu para renovar a vida da comunidade eclesial, revelando-se um antídoto em relação à tentação recorrente do mundanismo. As diferentes famílias religiosas mostram a beleza do seguimento do Senhor, no monte da oração e pelos caminhos do mundo, nas formas de vida comunitária, na solidão do deserto e na fronteira dos desafios culturais. Mais que uma vez, a vida consagrada foi a primeira a intuir as mudanças da história e a colher os apelos do Espírito: também hoje a Igreja precisa da sua profecia. Além disso, a comunidade cristã olha com atenção e gratidão para as práticas experimentadas de vida sinodal e de discernimento em comum que as comunidades de vida consagrada foram amadurecendo ao longo dos séculos. Também com elas sabemos que podemos assimilar a sabedoria do caminhar juntos. Muitas Congregações e Institutos praticam a conversação no Espírito ou formas semelhantes de discernimento no decorrer de Capítulos provinciais e gerais, para renovar as estruturas, repensar os estilos de vida, ativar novas formas de serviço e de proximidade aos mais pobres. Noutros casos, embatemos, porém, com o perdurar de um estilo autoritário, que não dá espaço ao diálogo fraterno.
  • c) Com igual gratidão, o Povo de Deus reconhece os fermentos de renovação presentes em comunidades que têm uma longa história e no florescimento de novas experiências de agregação eclesial. As associações laicais, os movimentos eclesiais e as novas comunidades são um sinal precioso do amadurecimento da corresponsabilidade de todos os batizados. O seu valor reside na promoção da comunhão entre as diferentes vocações, no impulso com o qual anunciamos o Evangelho, na proximidade àqueles que vivem uma marginalidade económica ou social e no compromisso com a promoção do bem comum. Muitas vezes, são modelos de comunhão sinodal e de participação em vista da missão. 
  • d) Os casos de abuso de vários tipos contra pessoas consagradas e membros de agregações laicais, particularmente a mulheres, indica um problema no exercício da autoridade e requer intervenções decididas e apropriadas.  

Questões a aprofundar 

  • e) O magistério da Igreja desenvolveu um amplo ensinamento sobre a importância dos dons hierárquicos e dos dons carismáticos na vida e na missão da Igreja, que requer uma melhor compreensão na consciência eclesial e na própria reflexão teológica. Por isso, é necessário que nos interroguemos sobre o significado eclesiológico e sobre as implicações pastorais concretas desta aquisição. 
  • f) A variedade de expressões carismáticas dentro da Igreja sublinha o compromisso do Povo fiel de Deus em viver a profecia da proximidade aos últimos e em iluminar a cultura com uma experiência mais profunda das realidades espirituais. É necessário aprofundar de que modo a vida consagrada, as associações laicais, os movimentos eclesiais e as novas comunidades podem colocar os seus carismas ao serviço da comunhão e da missão nas Igrejas locais, contribuindo para fazer progredir em direção à santidade, graças a uma presença que é profética.  

Propostas 

  • g) Consideramos que o tempo está maduro para se proceder a uma revisão dos «critérios diretivos para as relações mútuas entre os bispos e os religiosos na Igreja» propostos no documento Mutuae relationes, de 1978. Propomos que essa revisão seja feita em estilo sinodal, incluindo todos os envolvidos. 
  • h) Com a mesma finalidade, as Conferências Episcopais e as Conferências das Superiores e dos Superiores Maiores dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica ativem lugares e instrumentos adequados para promover encontros e formas de colaboração em espírito sinodal. 
  • i) Tanto a nível de cada uma das Igrejas, como dos agrupamentos de Igrejas, a promoção da sinodalidade missionária exige a instituição e uma configuração mais precisa das Consultas e dos Conselhos nos quais convergem os representantes de Associações laicais, Movimentos eclesiais e novas Comunidades para promover relações orgânicas entre estas realidades e a vida das Igrejas locais.
  • j) Nos percursos de formação teológica a todos os níveis, sobretudo na formação dos ministros ordenados, verifique-se a atenção dispensada à dimensão carismática da Igreja e, onde for necessário, seja reforçada. 

DIÁCONOS E PRESBÍTEROS NUMA IGREJA SINODAL  

Convergências 

  • a) Os presbíteros são os principais cooperadores dos bispos e formam com eles um único presbitério (cf. LG 28); os diáconos, ordenados para o ministério, servem o Povo de Deus na diaconia da Palavra, da liturgia, mas sobretudo da caridade (cf. LG 29). Em relação a eles, a Assembleia exprime, antes de mais, uma profunda gratidão. Consciente de que podem experimentar solidão e isolamento, recomenda às comunidades cristãs que os apoiem com a oração, a amizade, a colaboração.  
  • b) Diáconos e presbíteros estão comprometidos nas mais diferentes formas do ministério pastoral: o serviço nas paróquias, a evangelização, a proximidade aos pobres e marginalizados, o compromisso no mundo da cultura e da educação, a missão ad gentes, o estudo teológico, a animação de centros de espiritualidade e muitos outros. Numa Igreja sinodal, os ministros ordenados são chamados a viver o seu serviço ao Povo de Deus numa atitude de proximidade às pessoas, de acolhimento e de escuta de todos e a cultivar uma profunda espiritualidade pessoal e uma vida de oração. São chamados, sobretudo, a repensar o exercício da autoridade seguindo o modelo de Jesus que, «sendo de condição divina, […] esvaziou-se a Si mesmo, assumindo a condição de servo» (Flp 2,6-7). A Assembleia reconhece que muitos presbíteros e diáconos, com a sua dedicação, tornam visível o rosto de Cristo Bom Pastor e Servo. 
  • c) Um obstáculo ao ministério e à missão é constituído pelo clericalismo. Este nasce da má compreensão do chamamento divino, que leva a concebê-la mais como um privilégio que como um serviço, e manifesta-se num estilo de poder mundano que se recusa a prestar contas. Esta deformação do sacerdócio deve ser contrastada, desde as primeiras fases da formação, através de um contacto vivo com a quotidianidade do Povo de Deus e de uma experiência concreta de serviço às pessoas mais necessitadas. Hoje, não se pode imaginar o ministério do presbítero, a não ser em relação com o Bispo, no presbitério, em profunda comunhão com os outros ministérios e carismas. Infelizmente, o clericalismo é uma atitude que pode manifestar-se não apenas nos ministros, mas também nos leigos. 
  • d) A autoconsciência das próprias capacidades bem como dos próprios limites é um requisito para se comprometer no ministério ordenado com um estilo de corresponsabilidade. Por isso mesmo, a formação humana deve garantir um percurso de conhecimento realista de si mesmo, que se integre com o crescimento cultural, espiritual e apostólico. Neste percurso, não se deve subvalorizar o contributo da família de origem e da comunidade cristã, dentro da qual o jovem amadureceu a sua vocação, e de outras famílias que acompanham o seu crescimento.  

Questões a aprofundar 

  • e) Na perspetiva da formação de todos os batizados para uma Igreja sinodal, a formação dos diáconos e dos padres requer particular atenção. Foi amplamente expresso o pedido de que os seminários ou outros percursos de formação dos candidatos ao ministério estejam ligados à vida quotidiana das comunidades. É necessário evitar os riscos do formalismo e da ideologia que conduzem a atitudes autoritárias e impedem um verdadeiro crescimento vocacional. Repensar os estilos e os percursos formativos requer uma ampla obra de revisão e de confronto.  
  • f) Foram expressas diferentes avaliações sobre o celibato dos presbíteros. Todos apreciam o seu valor, carregado de profecia, e o testemunho de conformação a Cristo; alguns perguntam se, na Igreja latina, a sua conveniência teológica com o ministério presbiteral deve traduzir-se necessariamente numa obrigação disciplinar, sobretudo nos lugares em que os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Trata-se de um tema que não é novo, que precisa de ser retomado ulteriormente.  

Propostas 

  • g) Nas Igrejas latinas o diaconado permanente foi sendo posto em prática de diferentes formas nos vários contextos eclesiais. Algumas Igrejas locais não o introduziram de todo; noutras, teme-se que os diáconos sejam percebidos como uma espécie de remédio para a carência de padres. Por vezes, a sua ministerialidade exprime-se na liturgia, mais que no serviço aos pobres e necessitados da comunidade. Recomenda-se, então, que se faça uma avaliação sobre a atuação do ministério diaconal depois do Concílio Vaticano II. 
  • h) Sob o perfil teológico, emerge a exigência de compreender o diaconado, antes de mais em si mesmo, e não apenas como uma etapa de acesso ao presbiterado. O próprio uso linguístico de qualificar como “permanente” a forma primária de diaconado, para a distinguir da forma “transitória”, é o agente de uma mudança de perspetiva que ainda não foi realizada de forma adequada.  
  • i) As incertezas que rodeiam a teologia do ministério diaconal devem-se também ao facto de, na Igreja latina, ele ter sido recuperado precisamente como um grau próprio e permanente da hierarquia só a partir do Concílio Vaticano II. Uma reflexão mais aprofundada a este respeito permitirá iluminar também a questão do acesso das mulheres ao diaconado. 
  • j) Pede-se que se verifique de forma aprofundada a formação para o ministério ordenado à luz da perspetiva da Igreja sinodal missionária. Isto implica a revisão da Ratio fundamentalis que determina o seu perfil. Recomendamos, ao mesmo tempo, que se cuide da formação permanente dos presbíteros e dos diáconos em sentido sinodal. 
  • k) A dimensão da transparência e a cultura de prestação de contas representam um elemento de crucial importância para prosseguir em frente na construção de uma Igreja sinodal. Pedimos às Igrejas locais que identifiquem processos e estruturas que permitam uma verificação regular das modalidades de exercício do ministério de sacerdotes e diáconos que desempenham papéis de responsabilidade. Instituições já existentes, tal como os organismos de participação ou as visitas pastorais, podem constituir o ponto de partida para este trabalho, cuidando do envolvimento da comunidade. Em todo o caso, estas formas deverão ser adaptadas aos contextos locais e às diferentes culturas, para não derivar num entrave ou num peso burocrático. Por isso é que o âmbito regional ou continental poderia ser o mais oportuno para um seu discernimento.  
  • l) Considere-se, avaliando caso a caso e conforme os contextos, a oportunidade de inserir presbíteros que deixaram o ministério num serviço pastoral que valorize a sua formação e a sua experiência.  

O BISPO NA COMUNHÃO ECLESIAL  

Convergências 

  • a) Na perspetiva do Concílio Vaticano II, os bispos, enquanto sucessores dos Apóstolos, são postos ao serviço da comunhão que se realiza na Igreja local, entre as Igrejas e com a Igreja universal. A figura do bispo pode, portanto, ser compreendida de forma adequada na teia das relações com a porção do Povo de Deus a ele confiado, com o presbitério e com os diáconos, com as pessoas consagradas, com os outros bispos e com o bispo de Roma, numa perspetiva sempre orientada para a missão.  
  • b) O bispo é, na sua Igreja, o primeiro responsável pelo anúncio do Evangelho e pela liturgia. Guia a comunidade cristã e promove o cuidado dos pobres e a defesa dos últimos. Enquanto princípio visível de unidade, tem de modo particular a tarefa de discernir e coordenar os diferentes carismas e ministérios suscitados pelo Espírito para o anúncio do Evangelho e o bem comum da comunidade. Este ministério é realizado de modo sinodal, quando o governo é exercido na corresponsabilidade, quando a pregação se alimenta da escuta do Povo fiel de Deus, quando a santificação e a celebração litúrgica têm origem na humildade e da conversão. 
  • c) O bispo tem um papel insubstituível, dando início ao processo sinodal na Igreja local e animandoo, promovendo a circularidade entre “todos, alguns e um”. O ministério episcopal (esse “um”) valoriza a participação de “todos” os fiéis, graças ao contributo de “alguns” mais diretamente envolvidos em processos de discernimento e de decisão (organismos de participação e de governo). A convicção com a qual o bispo assume a perspetiva sinodal e o estilo com o qual exerce a autoridade influenciam de modo determinante a participação de padres e diáconos, leigos e leigas, consagradas e consagrados. Para todos, o bispo é chamado a ser exemplo de sinodalidade. 
  • d) Nos contextos em que a Igreja é percebida como família de Deus, o bispo é considerado como o pai de todos; já nas sociedades secularizadas, ele experimenta uma crise da sua autoridade. É importante não perder a referência à natureza sacramental do episcopado, para que a figura do bispo não se pareça a uma autoridade civil. 
  • e) Muitas vezes, as expectativas em relação ao bispo são muito altas, e muitos bispos lamentam-se de uma sobrecarga de compromissos administrativos e jurídicos, que torna difícil a plena realização da sua missão. Também o bispo deve ter em conta a sua própria fragilidade e os seus próprios limites e nem sempre encontra apoio humano e espiritual. Não é rara a experiência sofrida de certa solidão. Por isso mesmo, é importante, por um lado, voltar a trazer para o centro das atenções os aspetos essenciais da missão do bispo e, por outro lado, cultivar uma autêntica fraternidade entre os bispos e com o presbitério.  

Questões a aprofundar 

  • f) A nível teológico, é necessário aprofundar mais o significado da relação de reciprocidade entre o bispo e a Igreja local. Ele é chamado a guiá-la e, ao mesmo tempo, a reconhecer e proteger a riqueza da sua história, da sua tradição e dos carismas nela presentes. 
  • g) É necessário aprofundar a questão da relação entre sacramento da Ordem e jurisdição, à luz do magistério conciliar da Lumen gentium e dos ensinamentos mais recentes, como a Constituição apostólica Praedicate Evangelium, para esclarecer os critérios teológicos e canónicos que estão na base do princípio de partilha das responsabilidades do bispo e determinar âmbitos, formas e implicações da corresponsabilidade. 
  • h) Alguns bispos manifestam algum desconforto, quando lhes é pedido para intervir em questões de fé e de moral sobre as quais não há um pleno acordo no episcopado. É necessário refletir ulteriormente sobre a relação entre colegialidade episcopal e diversidade de pontos de vista teológicos e pastorais. 
  • i) Uma cultura da transparência e o respeito pelos procedimentos previstos para a tutela dos menores e das pessoas vulneráveis são parte integrante de uma Igreja sinodal. É necessário desenvolver ulteriormente estruturas dedicadas à prevenção dos abusos. A questão delicada da gestão dos abusos coloca muitos bispos diante da dificuldade de conciliar o papel de pai e o de juiz. Pede-se que se avalie a oportunidade de confiar a função judicial a outra instância, a determinar canonicamente.   

Propostas 

  • j) Sejam ativadas, em formas a definir juridicamente, estruturas e processos de averiguação regular da ação do bispo, fazendo referência ao estilo da sua autoridade, à administração económica dos bens da diocese, ao funcionamento dos organismos de participação e à tutela em relação a todos os tipos de abuso. A cultura da prestação de contas é parte integrante de uma Igreja sinodal, que promove a corresponsabilidade, bem como uma possível salvaguarda contra os abusos. 
  • k) Pede-se que se torne obrigatório o Conselho episcopal (cân. 473 §4) e o Conselho pastoral diocesano ou eparquial (CIC cân. 511, CCEO cân. 272) e que se tornem mais ativos, também a nível de direito, os organismos diocesanos de corresponsabilidade. 
  • l) A Assembleia pede que se verifiquem os critérios de seleção dos candidatos ao episcopado, equilibrando a autoridade do Núncio Apostólico com a participação da Conferência Episcopal. Pede-se também para ampliar a consulta do Povo de Deus, escutando um maior número de leigos e leigas, consagradas e consagrados e tendo o cuidado de evitar pressões inoportunas.  
  • m) Muitos bispos manifestam a exigência de repensar o funcionamento das Metrópoles (Províncias Eclesiásticas) e das Regiões e de reforçar a sua estrutura, para que sejam expressão concreta de colegialidade num território e em âmbitos nos quais os bispos possam fazer experiência de fraternidade, apoio recíproco, transparência e consulta mais ampla. 

POR UMA IGREJA QUE ESCUTA E ACOMPANHA 

Convergências 

  • a) Escuta é o termo que melhor exprime a experiência mais intensa que caraterizou os primeiros dois anos do percurso sinodal e também os trabalhos da Assembleia. Fá-lo no duplo significado de escuta dada e recebida, de pôr em atitude de escuta e de ser escutados. A escuta é um valor profundamente humano, um dinamismo de reciprocidade, em que alguém dá um contributo ao caminho do outro e recebe outro para si mesmo. 
  • b) Ser convidados a tomar a palavra e ser escutados na Igreja e pela Igreja foi uma experiência intensa e inesperada para muitas das pessoas que participaram no processo sinodal a nível local, especialmente aqueles que sofrem alguma forma de marginalização na sociedade e também na comunidade cristã. Ser escutado é uma experiência de afirmação e reconhecimento da nossa própria dignidade: é um poderoso instrumento de ativação dos recursos da pessoa e da comunidade.  
  • c) Colocar Jesus no centro da nossa vida requer alguma abnegação. Nesta perspetiva, escutar requer a disponibilidade para nos descentrarmos para dar espaço ao outro. Foi isto que experimentámos na dinâmica da conversação no Espírito. Trata-se de um exercício ascético exigente, que obriga cada um a reconhecer os seus próprios limites e a parcialidade do seu próprio ponto de vista. Por isso mesmo, abre uma possibilidade à escuta da voz do Espírito de Deus que fala também para lá dos confins da pertença eclesial e pode pôr em movimento um caminho de mudança e de conversão. 
  • d) Colocar-se à escuta tem um valor cristológico: significa assumir a atitude de Jesus em relação às pessoas com quem se encontrava (cf. Flp 2,6-11); tem também um valor eclesial, uma vez que quem se coloca à escuta é a Igreja, através da ação de alguns batizados que não agem em seu próprio nome, mas em nome da comunidade. 
  • e) Ao longo do processo sinodal, a Igreja encontrou-se com muitas pessoas e muitos grupos que pedem para ser escutados e acompanhados. Em primeiro lugar, mencionamos os jovens, cujo pedido de escuta e acompanhamento ecoou com força no Sínodo que lhes foi dedicado (2018) e nesta Assembleia, que confirma a necessidade de uma opção preferencial pelos jovens. 
  • f) A Igreja deve escutar com particular atenção e sensibilidade a voz das vítimas e dos sobreviventes aos abusos sexuais, espirituais, económicos, institucionais, de poder e de consciência por parte de membros do clero ou de pessoas com cargos eclesiais. A escuta autêntica é um elemento fundamental do caminho para a cura, o arrependimento, a justiça e a reconciliação.  
  • g) A Assembleia exprime a sua proximidade e o seu apoio a todos os que vivem uma condição de solidão como escolha de fidelidade à tradição e ao magistério da Igreja em matéria matrimonial e de ética sexual, na qual reconhecem uma fonte de vida. As comunidades cristãs são convidadas a estar particularmente próximas destas pessoas, escutando-as e acompanhando-as no seu compromisso. 
  • h) De diferentes modos, também as pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas pela Igreja, devido à sua situação matrimonial, identidade e sexualidade, pedem para ser escutadas e acompanhadas e que seja defendida a sua dignidade. Na Assembleia, pôde perceber-se um profundo sentido de amor, misericórdia e compaixão pelas pessoas que estão ou se sentem feridas ou negligenciadas pela Igreja, que desejam um lugar onde regressar “a casa” e onde se sintam seguras, escutadas e respeitadas, sem receio de se sentirem julgadas. A escuta é um prérequisito para caminhar juntos à procura da vontade de Deus. A Assembleia reafirma que os cristãos não podem faltar ao respeito pela dignidade de pessoa alguma. 
  • i) Dirigem-se à Igreja à procura de escuta e acompanhamento também pessoas que sofrem diferentes formas de pobreza, exclusão e marginalização dentro da sociedade na qual cresce inexoravelmente a desigualdade. Escutá-las permite à Igreja dar-se conta do seu ponto de vista e colocar-se concretamente ao seu lado, mas sobretudo deixar-se evangelizar por elas. Agradecemos e encorajamos as pessoas comprometidas no serviço de escuta e acompanhamento de todos os que se encontram na prisão e precisam particularmente de experimentar o amor misericordioso do Senhor e de não se sentir isolados da comunidade. Em nome da Igreja eles realizam as palavras do Senhor: «estava na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25,36). 
  • j) Muitas pessoas vivem uma condição de solidão que, muitas vezes, é próxima ao abandono. Idosos e pessoas doentes são, muitas vezes, invisíveis na sociedade. Encorajamos as paróquias e as comunidades cristãs a aproximar-se destas pessoas e a escutá-las. As obras de misericórdia, inspiradas nas palavras evangélicas «estava doente e visitastes-me» (Mt 25,36), têm um profundo significado para as pessoas envolvidas e também para fomentar laços comunitários.
  • k) A Igreja quer escutar todas as pessoas, não só aquelas que sabem fazer ouvir a sua voz com maior facilidade. Nalgumas regiões, por motivos culturais e sociais, os membros de alguns grupos, como os jovens, as mulheres e as minorias, podem sentir maior dificuldade para se exprimirem com liberdade. Também a experiência de viver em regimes opressivos e ditatoriais corrompe a confiança necessária para falar com liberdade. O mesmo pode acontecer quando o exercício da autoridade dentro da comunidade cristã se torna opressivo em vez de libertador.  

Questões a aprofundar 

  • l) A escuta requer um acolhimento incondicional. Isto não significa abdicar da clareza ao apresentar a mensagem de salvação do Evangelho, nem apoiar qualquer opinião ou posição. O Senhor Jesus abria novos horizontes àqueles que escutava sem condições e somos chamados a fazer do mesmo modo para partilhar a Boa Nova com as pessoas com quem nos encontramos. 
  • m) Difusas em muitas partes do mundo, as comunidades de base ou pequenas comunidades cristãs favorecem as práticas de escuta dos batizados e entre os próprios batizados. Somos chamados a valorizar o seu potencial, examinando também como seria possível adaptá-las aos contextos urbanos.  

Propostas 

  • n) Que deveremos mudar para que as pessoas que se sentem excluídas possam experimentar uma Igreja mais acolhedora? A escuta e o acompanhamento não são apenas iniciativas individuais, mas constituem uma forma de agir eclesial. Por isso mesmo, devem encontrar lugar dentro da programação pastoral ordinária e da estruturação operacional das comunidades cristãs aos vários níveis, valorizando também o acompanhamento espiritual. Uma Igreja sinodal não pode renunciar a ser uma Igreja que escuta e este compromisso deve traduzir-se em ações concretas. 
  • o) A Igreja não parte do zero, mas dispõe já de numerosas instituições e estruturas que prestam este precioso serviço. Pensemos, por exemplo, no trabalho capilar de escuta e acompanhamento dos pobres, marginalizados, migrantes e refugiados, realizado pelas Cáritas e por muitas outras realidades ligadas à vida consagrada ou ao associativismo laical. É preciso agir para potenciar a sua relação com a vida da comunidade, evitando que sejam percebidas como atividades delegadas a algumas pessoas.  
  • p) As pessoas que prestam o serviço da escuta e do acompanhamento, nas suas diferentes formas, precisam de uma formação adequada, também tendo em conta o tipo de pessoas com quem contactam, e de se sentirem apoiadas pela comunidade. Por sua vez, as comunidades precisam de tomar plena consciência do valor de um serviço exercido em seu nome e de poder receber o fruto desta escuta. De modo a dar maior evidência a este serviço, propõe-se a instituição de um ministério da escuta e do acompanhamento, fundamentado no Batismo, adaptado aos diferentes contextos. As modalidades como será conferido deverão promover um maior envolvimento da comunidade. 
  • q) Encoraja-se o SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar) a promover um discernimento teológico e pastoral sobre o tema da poligamia e sobre o acompanhamento das pessoas que vivem em uniões poligâmicas, que se aproximam da fé. 

ORGANISMOS DE PARTICIPAÇÃO 

Convergências 

  • a) Enquanto membros do Povo fiel de Deus, todos os batizados são corresponsáveis pela missão, cada um de acordo com a sua vocação, com a sua experiência e competência; assim, todos contribuem para imaginar e decidir passos de reforma das comunidades cristãs e de toda a Igreja, de modo que ela viva “a suave e confortante alegria de evangelizar”. A sinodalidade, na composição e no funcionamento dos organismos em que ganha corpo, tem como finalidade a missão. A corresponsabilidade é para a missão: isto atesta que estamos verdadeiramente reunidos em nome de Jesus; isto liberta os organismos de participação de involuções burocráticas e de lógicas mundanas de poder; isto torna frutuoso o ato de nos reunirmos. 
  • b) À luz do magistério recente (particularmente a Lumen gentium e a Evangelii gaudium), esta corresponsabilidade de todos na missão deve ser o critério que está na base da estruturação das comunidades cristãos e de toda a Igreja local com todos os seus serviços, em todas as suas instituições, em cada um dos seus organismos de comunhão (cf. 1Cor 12,4-31). O justo reconhecimento da responsabilidade dos leigos pela missão no mundo não pode transformar-se em pretexto para atribuir apenas aos bispos e aos padres o cuidado da comunidade cristã. 
  • c) A autoridade por excelência é a da Palavra de Deus, que deve inspirar cada encontro dos organismos de participação, cada consulta e cada processo de decisão. Para que isto aconteça, é necessário que, a todos os níveis, o ato de se reunir busque sentido e força na Eucaristia e se desenrole à luz da Palavra escutada e partilhada na oração. 
  • d) A composição dos vários Conselhos para o ato de discernir e de decidir de uma comunidade missionária sinodal deve prever a presença de homens e mulheres que tenham um perfil apostólico, que se distingam, antes de mais, não pela frequentação assídua de espaços eclesiais, mas por um testemunho evangélico genuíno nas realidades mais comuns da vida. O Povo de Deus será tanto mais missionário, quanto mais for capaz de fazer ressoar em si, mesmo nos organismos de participação, as vozes de todos os que já vivem a missão habitando o mundo e as suas periferias.  

Questões a aprofundar 

  • e) À luz do que partilhámos, consideramos importante refletir sobre a forma de promover a participação nos vários Conselhos, sobretudo quando os praticantes acharem que não estão à altura desse serviço. A sinodalidade cresce no envolvimento de cada membro em processos de discernimento e decisão para a missão da Igreja: neste sentido, sentimo-nos edificados e encorajados por muitas pequenas comunidades cristãs nas Igrejas emergentes, que vivem quotidianamente um “corpo a corpo” fraterno à volta da Palavra e da Eucaristia. 
  • f) Na composição dos organismos de participação não podemos protelar ulteriormente o trabalho confiado pelo Papa Francisco na Amoris laetitia. A participação de homens e mulheres que vivem situações afetivas e conjugais complexas «pode exprimir-se em diferentes serviços eclesiais, sendo necessário, por isso, discernir quais das diferentes formas de exclusão atualmente praticadas em âmbito litúrgico, pastoral, educativo e institucional possam ser superadas» (n. 299). O discernimento em questão diz respeito também à exclusão de organismos de participação da comunidade paroquial e diocesana, praticada em não poucas Igrejas locais. 
  • g) Na perspetiva da originalidade evangélica da comunhão eclesial: como podemos unir o aspeto consultivo e o deliberativo da sinodalidade? Com base na configuração carismática e ministerial do Povo de Deus: como integramos nos vários organismos de participação as ações de aconselhar, discernir, decidir?  

Propostas 

  • h) Com base na compreensão do Povo de Deus enquanto sujeito ativo da missão de evangelização, codifique-se a obrigatoriedade dos Conselhos Pastorais nas comunidades cristãs e nas Igrejas locais. Além disso, potenciem-se os organismos de participação, com uma adequada presença de leigos e leigas, com a atribuição de funções de discernimento em vista de decisões realmente apostólicas. 
  • i) Os organismos de participação representam o primeiro âmbito para viver a dinâmica de prestar contas de quem exerce serviços de responsabilidade. Encorajando-os no seu compromisso, convidamo-los a praticar a cultura de prestação de contas diante da comunidade de que são a expressão.