O Verão chega como uma pausa luminosa no compasso do ano. Traz consigo a promessa do reencontro: com a família, com os amigos, quiçá com os lugares onde fomos crescendo, com o tempo que não se mede a correr.
É o tempo das férias e do descanso, mas mais do que isso, é um tempo de vida vivida com mais vagar — em que o corpo desacelera e o coração reaprende a escutar. O calor convida-nos a sair de casa, mas também a entrar dentro de nós próprios. Ao sabor dos dias mais longos e das noites mais leves, há uma sede de bem, de beleza, e de verdade. Procuramos a felicidade com os pés na água, à sombra de uma árvore ou numa conversa espontânea.
Há uma simplicidade no Verão que nos recorda, que muito do que somos, se vive neste equilíbrio delicado entre o parar e o retomar, entre o respirar fundo e o seguir caminho. A Igreja chama a esta altura do ano Tempo Comum – nome paradoxal, se o tomarmos como indiferente ou repetitivo. Mas na linguagem litúrgica, o Tempo Comum é o tempo da fidelidade. É o tempo no qual, depois das grandes festas, se vive a quotidianidade da Fé, com os olhos postos em Cristo, que caminha connosco. É neste compasso tranquilo e perseverante que se pratica a santidade de todos os dias. E é também nesta estação solar que se torna possível antever a segunda metade do ano como oportunidade: de recomeço, de reencontro interior, de reorientação. Em “Silêncio na era do ruído”, Erling Kagge recorda-nos que “o silêncio não é ausência, mas presença”.
No meio da constante hiperconexão, das notificações que não cessam, da urgência que se tornou regra, a tecnologia, se não for medida, pode roubar-nos o essencial. O silêncio não é apenas a pausa entre sons, mas o espaço onde Deus pode falar.
Jesus, como nos relatam, muitas passagens do Evangelho, retirava-Se para rezar, para estar a sós com o Pai. O Seu silêncio não era fuga, era encontro, era comunhão. Era no silêncio que escutava e se deixava conduzir.
Talvez este Verão, mais do que férias, este tempo possa ser ocasião de escuta. De menos ecrãs e mais céu. De menos ruído e mais presença. De reencontro com os outros, sim, mas também com Aquele que, no silêncio, nos sustém e recria.
Texto e fotografia: P João Marçalo