A quarta e última etapa da viagem apostólica do Papa Francisco ao Oriente, que durou 12 dias, foi a cidade -Estado de Singapura, conhecida pelo seu grande desenvolvimento tecnológico e pela alta finança nela instalada, sendo um dos países da Ásia, ditos os “tigres”. É mesmo um dos países mais ricos do mundo.
À chegada, o Papa teve calorosa receção no aeroporto, e depois dirigiu-se às autoridades e à sociedade civil como também ao corpo diplomático. Começou por expressar o seu apreço pelo notável crescimento material e sustentado de Singapura, mas também pelo seu compromisso com o respeito, a defesa e a valorização das muitas diferenças existentes entre etnias e grupos religiosos. E insistiu na necessidade de continuar esse caminho para chegar à plena inclusão, à sustentabilidade ambiental e ao bem comum. Agradeceu a calorosa receção que teve. Relevou o lugar estratégico desta Cidade-Estado, de facto, situada no cruzamento obrigatório das grandes rotas comerciais do mundo. Sublinhou que este crescimento não aconteceu por acaso, mas se deve a líderes com visão, decisões bem pensadas e planeamento cuidado.
Reconheceu o caminho já andado na construção da justiça social, citando pontos concretos como a habitação pública, a educação de alta qualidade e um sistema de saúde eficiente. Não deixou de lembrar alguns riscos inerentes ao crescimento económico e ao desenvolvimento altamente tecnológico, como é o de colocar o pragmatismo e a meritocracia acima de tudo, o que produz a exclusão sobretudo dos pobres e dos idosos. Na mesma linha, chamou a atenção para a realidade dos migrantes, que corresponde a 38% dos trabalhadores nesta Cidade-Estado, os quais merecem ser sempre respeitados nos seus direitos. Falou na importância de saber usar os avanços tecnológicos para promover sempre a compreensão e a solidariedade, em vez de isolar os indivíduos. Pôs em destaque o valor positivo da coexistência harmoniosa de várias etnias, culturas e religiões, cuja relação inclusiva é facilitada pela imparcialidade das autoridades públicas, de facto empenhadas no diálogo e na cooperação em ordem ao bem comum.
Momento especialmente significativo foi a Celebração Eucarística, na tarde do segundo dia, no Estádio Nacional de Singapura, com participação de 50 mil pessoas. Entre os concelebrantes estavam dois cardeais, vários bispos, vindos de países da região, como da Malásia, de Macau e de Hong-Kong. Nela tomaram parte católicos e outras pessoas de boa vontade, incluindo uma delegação ecuménica presidida pelo arcebispo anglicano de Singapura.
À homilia, o Papa partiu do tema desta visita apostólica, a saber, “Juntos na unidade e na esperança” e falou do amor como fonte das grandes obras, o qual nunca pode ser substituído pelo dinheiro, pelas técnicas ou outras capacidades da engenharia. Acrescentou que a fonte do amor é sempre Deus, que nos conduz a partilhá-lo com os outros, dando resposta generosa às necessidades dos mais pobres. Para prosseguir no caminho do amor, apresentou o exemplo dos santos e nomeou S. Francisco Xavier, o missionário que aportou àquela ilha e, diante de Deus, disse: “Senhor estou aqui. Que queres de mim?”
Outro ato de grande importância foi o encontro inter-religioso, em que o Papa participou e teve lugar no último dia da visita. Estavam presentes, além de católicos, muçulmanos, hindus, Budistas, Taoistas, Bahais.
O Papa primeiro escutou as intervenções de cada um dos convidados das diversas religiões, perante numerosa plateia. Depois foi respondendo às questões colocadas e, em seu jeito de diálogo interativo, também questionou e esperou respostas. Deste diálogo resultaram várias atitudes que é necessário pôr em prática, para termos uma sociedade progressiva e de paz. Assim, ficou claro que precisamos de jovens críticos, mas de crítica construtiva. Mais ainda, antes de criticar os outros, cada um tem de se deixar criticar a si mesmo. Cautela com as zonas de conforto, alertou o Papa. Elas levam a engordar e a paralisar, em vez de motivar para seguir em frente, mesmo que haja dificuldades. E recomendou, dirigindo-se aos jovens – “não tenhais medo”, porque o medo paralisa. Por isso, não se pode ficar parado, mesmo que para avançar seja necessário correr riscos. E quando há erros – que são inevitáveis – temos de saber aprender com eles. Cautela com o bulling, sublinhou o Papa, pois o respeito pelas deficiências, sejam elas quais forem, é a única atitude digna.
E como usar os “media”? Cautela com as notícias falsas.
Quase a terminar, perguntou, afinal, para que serve o diálogo inter-religioso. Depois de ouvir reações a esta pergunta, concluiu: Deus, há só um. Os caminhos para chegar a Ele é que são variados, como também são variadas as linguagens. Ao terminar, convidou a um tempo de silencio, para cada um rezar pelos outros, à sua maneira.
13 de setembro de 2024
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
Imagem: RR