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Zona Centro: Dioceses reúnem clero em jornadas de formação

Formação do Clero – Notas – tópicos gerais

Fátima – 30 de janeiro 2024 – Dia 1

As Dioceses da região Centro – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Viseu – estão a promover umas Jornadas de Formação do Clero desde o dia de ontem, 30 de janeiro e que se vão prolongar até dia 1 de fevereiro de 2024, no Santuário de Fátima.

Começou esta Jornada de Formação do Clero com a intervenção do doutor Pedro Vaz Patto, licenciado em Direito (1985) e mestre em Ciências Jurídico-Políticas (1988) pela Universidade Católica Portuguesa. – Lisboa. Exerce funções como juiz desde 1989.

Começou por falar da construção da paz como desafio atual para a Europa, salientando que não se pode deixar de recordar a mensagem que nos deixou o Papa Francisco no discurso que proferiu no Centro Cultural de Belém, dirigido às autoridades civis, ao corpo diplomático e a representantes da sociedade civil. Aí afirmou: «Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a carateriza, apetece perguntar-lhe: Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo?»

Referiu que as religiões, e a diversidade religiosa, possam contribuir para a paz é algo que nem todos aceitam sem discussão. Há mesmo quem considere que é exatamente o contrário, que religiões necessariamente favorecerão o conflito e a violência e serão, por isso, socialmente nocivas. Vem a propósito, disse, para relembrar a tese que o rabino Jonathan Sachs expõe no seu livro Not in God’s Name (traduzido em português pela editora Desassossego, em 2021). São deste estas palavras: «Com muita frequência na história da religião, muitas pessoas mataram em nome de Deus da vida, combateram guerras em nome do Deus da paz, odiaram em nome do Deus do amor e praticaram a crueldade em nome do Deus da compaixão. Quando isso sucede, Deus fala, por vezes com uma voz calma e fraca, quase inaudível, sob o clamor dos que pretendem falar em seu nome.” O que diz nessas ocasiões é: Não em meu nome

Por outro lado, a imigração responde, na verdade, ao desfio que representa a queda da natalidade em Portugal e na Europa. Penso, porém, que não pode ser essa a única resposta a esse desafio. No seu discurso, do dia 12 de maio do ano passado, aos “Estados Gerais da Natalidade” de Itália, o Papa Francisco associa a queda da natalidade às dificuldades das novas gerações de acesso ao emprego justamente remunerado e à habitação, mas, sobretudo, ao egoísmo, a cansaço moral e à tristeza e associa o incremento da natalidade (a generatividade) à alegria, à esperança. Desse modo, afasta a contraposição entre o incremento da natalidade e acolhimento de imigrantes.

Nesta perspetiva é encarado o fenómeno das migrações, que também é encarado à luz de critérios de justiça social. A encíclica salienta como a abertura a outras culturas é enriquecedora para pessoas e povos: «uma pessoa e um povo só são fecundos se souberem criticamente integrar no seu seio a abertura aos outros» (n. 41).

Durante a tarde realizaram-se três ateliers. Primeiro sobre “As diferentes formas de vida em família, com a Professora Inês Pimentel, Licenciada e doutorada em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Reflectiu-se acerca do conceito de família em transformação, a par das mudanças sócio-demográficas a que assistimos nas últimas décadas, e suas implicações para as diferentes configurações familiares emergentes. Fez-se um enquadrando histórico da evolução da família tradicional para a família moderna e mais recentemente a família contemporânea. Realizou-se uma breve resenha destas transformações sociais, com profundas implicações para o funcionamento e estrutura das famílias atuais.

Tendo em conta a diversidade da vivência familiar contemporânea, procurou-se identificar os principais eixos em torno dos quais se alicerçam as grandes mudanças e desafios que a família tem vindo a enfrentar e que são ocasião de risco e de oportunidade.

Por fim, procurou-se desconstruir a ideia de que “a família está em crise”, procurando fomentar a reflexão e análise de que crise falamos e como podemos responder às necessidades e desafios que essa crise nos coloca a todos enquanto sociedade. A família contemporânea, mais aberta, horizontal e em rede continua a cumprir a sua função social e a desafiar-nos a construir, a partir dela, um futuro melhor.

O segundo atlier versou sobre “Projetos educativos e ideologias”, com Jorge Cotovio, Mestre em Administração Escolar pela Universidade Católica Portuguesa..

Aprofundou-se a certeza que a “ideologia” do Deus Pátria e Família pertence ao passado. Pertence ao passado o sistema educativo dos manuais fazendo apelo aos valores morais e religiosos e da disciplina de “Religião e Moral”, de frequência obrigatória. Refletiu-se sobre a escola do crucifixo na parede, que entretanto, desapareceu, e os presépios que estão a ser substituídos por pinheiros enfeitados e por pais-natais. As ideologias políticas, marcadas, obrigatoriamente, pela secularidade, facilmente resvalam para o secularismo e condicionam a vida em sociedade.

Também a escola. Os projetos educativos das escolas estatais, supostamente “neutros” supostamente defensores dos valores fundantes da sociedade, privilegiam os valores da moda. Os outros, os “tradicionais” – que atravessam há séculos povos, raças, culturas, religiões – surgem aqui e ali de passagem (porque até “ficam bem”). E quanto aos outros – os “religiosos” – nem vê-los (mesmo sob a capa da interioridade ou transcendência, conquanto a Lei de Bases do Sistema Educativo refira os “valores espirituais”, ao lado dos estéticos, morais e cívicos…). Procurou-se responder a algumas perguntas: – como nos situamos, como indivíduos, como cristãos, como agentes pastorais, como Igreja? Será que a escola (espelho da sociedade) é um “caso perdido”? Como a podemos “espiritualizar”? Como podemos evangelizar através dela? Como estamos a potenciar as poucas oportunidades que ela ainda nos oferece? No que respeita à Escola Católica, achamos que ela “partilha a missão evangelizadora da Igreja e é o lugar privilegiado no qual se realiza a educação cristã”? Por acaso, consideramo-la uma quase-paróquia?

Por fim, o terceiro atlier abordou a “Linguagens e comunicação”, pelo padre Pedro Guimarães, sacerdote da Congregação da Missão que foi ordenado presbítero em 01 de julho de 2007, no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa.

Abordou a «Comunicação, fé e cultura são três realidades entre as quais estabeleceu uma relação da qual depende o futuro da nossa civilização». Esta “profecia” de João Paulo II, na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 1984, expressa não só a atenção da Igreja aos sinais dos tempos, mas também nos chama a responder aos desafios que tal relação nos coloca, hoje, em plena era digital e sociedade da informação.

Estamos diante de uma mudança fundamental na forma como concebemos a realidade, modificando os nossos processos de aprendizagem, a perceção do tempo, do espaço, do corpo, das relações interpessoais e do nosso modo de pensar, concluiu a Relação da Síntese da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (cfr. n. 17). Portanto, eis o desafio como discípulos missionários (1Jo 1-3): incarnar as verdades de sempre numa linguagem que permita reconhecer a sua permanente novidade (EG, 41).

 

Apontamentos e fotografias de Paulo Caetano, Diác.